sexta-feira, 19 de setembro de 2014


MORDIDAS NA ESCOLA: Entendendo o problema


                                                     

As mordidas são ocorrências comuns em turmas de educação infantil, provocam muita preocupação e ansiedade nos pais, no entanto, elas fazem parte do desenvolvimento normal das crianças até os três anos de idade. Geralmente as mordidas começam a partir do 1 ano de vida.

O que sentem os pais da criança que mordeu?
Sentem-se envergonhados e culpados

O que sentem os pais da criança mordida?
Sentem-se constrangidos, culpados e também agredidos. Normalmente questionam os cuidados que a escola está oferecendo e também os pais da criança que mordeu por não corrigir adequadamente a criança.

Papel da escola na mediação do conflito
A coordenação da escola deve buscar junto aos pais e professores as causas da mordida para intervir na prevenção do problema.

MOTIVOS
Descoberta do próprio corpo
Desde o aparecimento da dentição até por volta dos 2 anos ou 3 anos, as crianças mordem brinquedos, sapatos e até os próprios pais, professores e amigos para descobrir sensações e movimentos. Um dos motivos é a descoberta do próprio corpo. O psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962) escreveu que assim a criança constrói seu "eu corporal". “É nessa fase, em que ela testa os limites do próprio corpo, onde o dela acaba e começa o da outra pessoa”.

Fase oral
Segundo o austríaco Sigmund Freud (1856-1939), a fase oral compreende o período em que a criança sente necessidade de levar à boca tudo o que estiver ao seu alcance, pois o prazer vital ou a sua libido está na cavidade oral e nos lábios.

Morder para conhecer
As crianças mordem para conhecer. O que está em volta da criança é objeto de seu interesse e ela quer conhecer, tocar, sentir o cheiro, saber se é mole ou duro, quente ou frio, se rasga, quebra, e é pela boca que ela vai experimentar essas consistências e sensações. Morder passa a ser uma forma de interagir com o mundo, perceber os objetos e também provocar reações. Também utiliza a boca para rejeitar ou aceitar alimentos, se comunicar, sorrir, chorar, balbuciar.  

Prazer pela boca
O primeiro contato da criança com o mundo acontece pela boca, quando busca o seio materno e sente prazer em saciar sua fome. Quando morde um amigo descobre novas sensações de prazer, como em ver o susto, a reação, o choro do colega.

Necessidade de se comunicar
Como a criança ainda não domina a linguagem verbal a mordida é utilizada para expressar descontentamento e irritação ou para disputar a atenção ou objetos com os amigos.
Com o tempo, conforme a criança vai aprendendo a se comunicar melhor através da linguagem, começa a trocar as mordidas pelas palavras, conseguindo aos poucos, organizar e expressar seus sentimentos e insatisfações de outra forma.

Quando entra uma criança nova no grupo
A criança pode ter sentimentos de insegurança, medo de perder a atenção da professora ou ciúmes da criança que está chegando por receber da professora mais atenção e cuidados especiais. Como ainda não consegue expressar os seus sentimentos por meio de palavras, manifesta a sua insegurança e ciúmes mordendo a criança nova.

Brincadeira dos pais dando pequenas mordidas para manifestar carinho
São formas erradas de demonstrar carinho que podem confundir a crianças, que reportam para outras crianças as mesmas brincadeiras, porém podendo machucá-las, já que ainda não possuem domínio da força da mandíbula. Essas atitudes das famílias, apesar de trazerem sentimentos positivos, podem causar agressividade na criança que ainda não controla seus impulsos e não sabe distinguir o certo e o errado.

Separação dos pais
A separação dos pais ou brigas presenciadas pela criança geram desconforto e insegurança. Sem poder falar, os dentes viram um recurso de expressão.

Desejos não atendidos
Nessa fase, a criança ainda está acostumada a ter seus desejos atendidos prontamente, sendo comum demonstrar sua insatisfação, por meio de mordidas, enquanto não aprende a falar direito.

Disputas de brinquedos
Cada criança tem seu modo de reagir diante do que sente e do que acontece ao seu redor. Nas disputas por brinquedos, algumas choram, esperando que um adulto ajude, outras reagem mais intensamente, batendo ou mordendo.

Lidar com a ansiedade
Morder também pode ser uma maneira da criança lidar com sua ansiedade, já que ainda não consegue organizar e compreender direito suas emoções, ela descarrega os ciúmes, a insegurança na mordida.

Situações estressantes, festas
Em festas com grande número de pessoas, a criança pode morder por ansiedade ou insegurança, descarrego de excitação ou agitação.

Chegada de um irmãozinho
Sentimentos de ciúmes e insegurança pela chegada de um irmãozinho podem ser causa de mordidas.

Mudança de casa
A criança sente dificuldade em assimilar novos ambientes, precisa de um tempo para se adaptar e sentir-se segura.

Filho único
O filho único pode ser mais possessivo, egoísta e menos tolerante. Como ainda não domina a linguagem verbal para expressar os seus sentimentos, tende a utilizar a mordida.

Mudança da posição passiva para a ativa
A criança que é mordida pode reagir querendo morder também.

Rotina da escola
Rigor no planejamento sistemático de atividades, falta de tempo livre para o desenvolvimento de atividades motoras e lúdicas ou falha na supervisão das crianças.

COMO TRATAR A CRIANÇA QUE MORDE
O professor deve ajudar tanto a criança que morde como a que foi mordida. É preciso ter calma, conversar com a criança agressora, mostrar que a mordida dói e que o amiguinho ficou triste e machucado. Explicar que ninguém gosta de sentir dor. Ser firme e não brigar com a criança.

Identificar as razões da mordida
Para evitar a instalação da agressividade no grupo, perguntar por que mordeu o coleguinha, se a criança não souber responder, oferecer algumas opções. Identificar o contexto em que ocorrem as mordidas para estimular a substituição da mordida pela argumentação verbal. Não isolar a criança, estimular a convivência saudável e mostrar outras formas de comunicação. Ficar mais atento com as crianças para reduzir as mordidas e situações de agressividade.

Oferecer outras formas de comunicação
Quando a criança morde o amiguinho querendo o mesmo brinquedo, o professor deve entrar com o recurso da palavra dizendo que essa não é a melhor forma de conseguir o brinquedo, apresentando outro brinquedo ou uma atividade para que a criança se interesse e perceba que há outros caminhos para lidar com ansiedades, angústias, excitações. Estimular formas verbais de resolução do conflito. Desenvolver atividades de expressão de linguagens – gestos, danças, músicas, pinturas, brincadeiras livres, etc. Aumentar o tempo para o brincar.

Não taxar a criança de mordedora
A expectativa de que a criança volte a morder, pode realmente levar a mais mordida.

Fazer um trabalho preventivo
As professoras devem também realizar um trabalho preventivo, organizar o ambiente e redobrar a atenção sobre as crianças para evitar novas ocorrências que levem a criança a se machucar, agredir ou ser agredida por um colega. Manter sempre um professor ou adulto próximo das crianças, pois elas se desorganizam muito rápido quando se percebem sozinhas.

O que não fazer com a criança que morde
Dar bronca na frente de todo mundo pode deixá-la mais nervosa e talvez mais agressiva. Não fazer combinados que a criança não possa cumprir. Não deixar de castigo ou pedir para pensar no cantinho da sala. Deixar a criança se sentir premiada com o que conseguiu através do comportamento inadequado. Ela não deve usufruir daquilo que conquistou à base da mordida (isso vale para chutes, beliscões, tapas, arranhões). Incentivar a dar o troco.

COMO TRATAR A CRIANÇA MORDIDA
A criança que é mordida precisa de acolhimento - atenção e ajuda - para melhorar seus reflexos, expressar seu descontentamento e encontrar mecanismos de defesa. Os pais e professores devem encorajá-la a se defender, porém jamais incentivar o revide. Evitar o rancor, pois a criança que morde não é má, muitas ainda não compreendem o conceito de dor.
Por José Helio da Silva
FONTE:
DITTMERS, Danielle. O significado das mordidas.
MELO, Ana Maria; VITÓRIA, Telma. Mordidas: agressividade ou aprendizagem?
REVISTA NOVA ESCOLA.Como lidar com as crianças que mordem.
VENEZIAN, Juliana de Albuquerque; OLIVEIRA, Bruna Ronchi Oliveira; ARAUJO, Maria Augusta da Costa. O manejo da agressividade da criança: o que uma mordida quer dizer?

INSTITUTO AVISA LÁ. Mordidas na Primeira Infância.

domingo, 24 de agosto de 2014


Pequenos se divertem com livros-brinquedos na UME Doutor Luiz Lopes, em Santos, SP: projeto de leitura no berçário causou espanto no início, mas acabou sendo premiado. Foto: Kriz Knack

Fraldas e livros: a importância da leitura para a primeira infância
Acredite: não é perda de tempo ler para quem ainda nem aprendeu a falar. Conheça seis projetos de estímulo à leitura voltados para crianças de até 3 anos

Quando a escritora de livros infantis Tatiana Belinky perguntou ao pediatra, nos idos de 1940, em que momento deveria começar a educar seu filho, então com 3 meses de vida, ouviu como resposta: "Você já está atrasada". Parece mera frase de efeito. O fato, porém, é que o doutor estava coberto de razão. Não há idade para dar início à educação de uma criança - e isso vale também para o incentivo à leitura.
Bebês podem até não entender todo o enredo de uma história, mas a leitura em voz alta os coloca em contato com outras dimensões das linguagens oral e escrita, que serão importantes em seu desenvolvimento. "Eles percebem que a fala do dia a dia é diferente daquela usada numa leitura, que tem cadência, ritmo e emoção. Entendem, por exemplo, que há um começo, um clímax e um desfecho", explica Fraulein Vidigal de Paula, doutora em Psicologia Escolar.
Especialistas acreditam que, para alguém se interessar por livros na vida adulta, é fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo. Ou seja: estimular a leitura dentro do berçário, com bebês que ainda nem aprenderam a falar, pode ser o caminho mais curto para a formação de um futuro leitor. "Manuseando um livro, eles são capazes de identificar a existência da grafia e passam a estabelecer uma relação direta com a linguagem escrita", afirma Fraulein. Pouco importa se a criança ainda não aprendeu a ler ou se o exemplar em questão é feito de papel, plástico ou tecido.
É verdade que leitura para bebês pode assustar até professores. Foi o que descobriu a pedagoga Cláudia Leão, de Santos, no litoral de São Paulo. Em 2002, durante uma reunião com educadoras do berçário onde trabalhava, Cláudia propôs uma atividade de leitura. A ideia foi recebida com espanto e até um pouco de desdém. Mas Cláudia bateu o pé e, da sua teimosia, nasceu o projeto Leitura no Berçário! Por Que Não?. Àquela altura, a pedagoga não fazia ideia do que ainda estava por vir. Cinco anos mais tarde, em 2007, seu trabalho seria amplamente reconhecido e ela receberia um prêmio do Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler).

Para despertar a paixão pelos livros nos pequenos da UME Doutor Luiz Lopes, Cláudia usou uma estratégia muito simples: ela criou livros feitos de pano e feltro que têm, em todas as páginas, desenhos de bichos e fotos de cada um dos bebês, lado a lado, como se fossem personagens de uma história. Quando a criança se reconhece, ao virar uma página e encontrar a própria foto, ela se levanta e escolhe outro livro, trazendo-o de volta à roda de leitura para dar continuidade à brincadeira. "Mecanismos desse tipo levam-na a perceber que entre ela e o livro há uma distância mínima", diz Cláudia. Conforme crescem, tornam-se elas mesmas as contadoras de histórias.
Leitura em família
São muitos os benefícios que o contato com livros, ainda na primeira infância, é capaz de proporcionar. Várias funções psicológicas podem ser desenvolvidas, entre elas a memória e a capacidade de estruturar as informações. A leitura em voz alta para uma criança de até 3 anos ajuda a despertar sua sensibilidade para diferentes formas da fala e ainda tem o efeito positivo sobre a chamada atenção seletiva - a capacidade de se desligar de outras fontes de estímulo, mantendo-se concentrada numa só atividade por períodos mais longos. Ler histórias também ajuda no desenvolvimento da noção de tempo. O bom e velho "era uma vez" carrega em si a ideia de algo que acontecia e já não acontece, apresentando à criança a existência do antes, do agora e do depois. "Com a prática da leitura, os bebês desenvolvem estruturas para a ordenar o mundo com base no critério de temporalidade", diz Fraulein Vidigal de Paula.
Na capital mineira, um projeto que estimula o envolvimento dos pais no incentivo à leitura tenta potencializar todas as vantagens que a proximidade com livros pode oferecer aos pequenos. E, assim como o Leitura no Berçário!, também vem colhendo bons resultados. Trata-se do Espaço de Ler, Direito de Todos, que foi implementado em nove creches e atende 950 crianças. Ele é mantido pelo Instituto C&A, que, por meio de seu programa Prazer em Ler, apoia iniciativas para a formação de leitores, com suporte do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Nas creches de Belo Horizonte, são realizadas mediações de leitura com as professoras e também com funcionários das lojas C&A, que participam como voluntários. A cada 15 dias, os próprios pais são convidados a ler histórias para toda a turma. Isso estimula os pequenos a levar livros para casa e continuar por lá a "brincadeira" de leitura com o resto da família.
"Crianças, familiares e educadores participam ativamente do espaço das bibliotecas, coisa que não acontecia antes de implementarmos o projeto", diz Leandro Gomes, coordenador pedagógico da Creche Elizabeth Santos e integrante do conselho gestor do projeto. Outras atividades de incentivo à leitura são especialmente aguardadas pelos pequenos. Uma delas: eles podem escolher, entre vários livros colocados sobre a mesa, quais querem ler enquanto tomam lanche.

O Espaço de Ler, Direito de Todos é apenas um dos projetos que apostam na participação intensiva de pais e familiares para garantir o envolvimento das crianças com a leitura. Em Curitiba, outra iniciativa segue a mesma linha. Ela acontece na CEMEI Santa Izabel e tem por trás o Instituto Avisalá, de São Paulo, cujas principais ações se concentram na formação continuada de profissionais que trabalham com Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental.
A pedagoga Andréia Bonatto, que planejou a atividade, explica: "Toda sexta-feira, as crianças voltam para casa com uma sacolinha de pano. Dentro dela vai um livro, que elas mesmas escolheram, e um caderno, com um bilhete solicitando aos pais que façam a leitura com o filho. Na segunda-feira, os pequenos trazem consigo o livro lido e o caderninho, com anotações feitas pela família sobre a experiência do fim de semana. Então, a professora lê em voz alta o que foi escrito".

O resultado é que, muitas vezes, além de querer recontar a história para os colegas, as crianças também anseiam por compartilhar suas próprias impressões sobre a leitura - exatamente como feito por escrito, no caderno. "A atividade os fez tornarem-se ávidos contadores de histórias. Toda segunda-feira é uma farra, porque cada um quer contar primeiro aquilo que leu no fim de semana", diz Andréia.
Biblioteca-mirim
No primeiro ano de vida, o bebê aprende a chorar, comer, engatinhar... até andar. A velocidade da transformação é tamanha que, a cada semana, sua capacidade de compreender uma história muda completamente. É por isso que obras clássicas da literatura universal funcionam tão bem: por serem clássicas, são atemporais e emocionam sempre. Podem ser recontadas inúmeras vezes, e é assim que os pequenos preferem. Eles gostam de se antecipar à página seguinte e contar o que vai acontecer naquela história. Por isso, ilustrações são especialmente importantes nos livros destinados à primeira infância. Nessa faixa etária, o texto é menos importante, pois as letras ainda não fazem sentido para a criança. O que realmente interessa são as formas e as imagens, além da expressão vocal e facial de quem lê para ela. Do mesmo modo que um bebê é capaz de dormir tranquilamente ao som de uma doce canção de ninar, sem prestar atenção à letra, ele pode se emocionar escutando uma história que ainda não entende muito bem, só de prestar atenção na voz do contador.
Ao lidar com bebês ou crianças muito pequenas, descobre-se logo que qualquer atividade pedagógica tem prazo de validade. Se está vencida, é hora de mudar. Para driblar a dispersão natural, os momentos de leitura com pequenos de até 3 anos devem ser dinâmicos, com duração variável. Criatividade é a palavra de ordem. E um bom exemplo de abordagem criativa é o projeto Ler é Saber - Primeira Infância, idealizado por Ivani Capelossa, do Instituto Brasil Leitor. 

O projeto prevê a instalação de bibliotecas planejadas especialmente para crianças pequenas. Já existem 18 salas de leitura como essas em Centros de Educação Infantil espalhados pelo país. Dessas, nove concentram-se no município de Cubatão, a 57 quilômetros de São Paulo. Lá, quem manda são as crianças: as prateleiras são tão baixinhas que até um bebê, engatinhando, é capaz de alcançar os livros. Os móveis, também desenhados especialmente para o projeto, não têm quinas. O acervo de livros é composto por aproximadamente 400 títulos. Ainda assim, o espaço mais se parece com uma brinquedoteca, tamanha é a quantidade de outros objetos - entre fantoches, marionetes, bonecos e instrumentos musicais, dos mais variados. Tudo isso para tornar mais envolvente, dinâmica e fascinante a atividade de narração de histórias.
Entre uma diversão e outra, explica Ivani, os livros acabam se tornando tão atraentes quanto os próprios brinquedos. "Considero cada um daqueles objetos como parte do acervo da biblioteca", ela afirma. "Não é o caso de separá-los dos livros, pois eles estão relacionados. E uma educadora pode passar a tarde inteira desenvolvendo atividades com as crianças aqui, sem que a diversão se esgote."
Imaginação para superar a falta de uma biblioteca
Nem sempre se pode contar com salas de leitura tão aparelhadas quanto as de Cubatão. E, nesses casos, simples fantoches, marionetes e fantasias são meios de convidar as crianças a participar da história. É assim, com poucos recursos mas muita imaginação, que as mediadoras da creche do Projeto Âncora desenvolvem nos pequenos o amor pelos livros. O projeto, sediado em Cotia, a 34 quilômetros de São Paulo, existe desde 1995, dando a crianças e adolescentes da região a oportunidade de conhecer livros de boa qualidade literária.
O contato com a palavra escrita é estimulado em uma atividade batizada Porto da Leitura, coordenada pelas pedagogas do projeto. Os mediadores são adolescentes atendidos pelo Âncora. Eles recebem capacitação em mediação de leitura pela A Cor da Letra, uma entidade com sede em São Paulo que desenvolve e acompanha projetos de literatura, juventude, educação, cultura e saúde. E quem escuta as histórias são os bebês, estimulados com brincadeiras relacionadas aos livros escolhidos. Maria de Nazaré Almeida Filho, educadora do Projeto Âncora, revela o segredo do sucesso das histórias: "Vale a pena preparar o ambiente antes da leitura, apagar as luzes, utilizar um cenário... Assim, é mais fácil prender a atenção dos pequenos. Se conseguimos mantê-los atentos por 20 minutos, já é uma vitória". 

Na Creche Vovô Juca, em São Paulo, essa dificuldade parece ter sido superada. A instituição, sem fins lucrativos, atende famílias da região do Jardim Taboão. Atuando como voluntários do projeto Ler, Conviver e Aprender, os alunos de Ensino Médio e pré-vestibular do Colégio Universitário Taboão, em Taboão da Serra, na região metropolitana da capital paulista, conseguem a proeza de manter atentos, por duas horas seguidas, os 15 bebês mantidos pela creche.
Ideia do professor Mauro Chiavassa, a iniciativa recebeu o selo Escola Solidária em 2007, concedido pelo Instituto Faça Parte. Para envolver as crianças na atividade de contação de histórias, os jovens mediadores de leitura se preparam cuidadosamente: em encontros semanais, sempre acompanhados de um coordenador, eles decidem qual obra literária será objeto de trabalho com os pequenos. A partir daí, desenvolvem uma série de atividades relacionadas à história.

Ler é importante porque...
- Para a formação de bons leitores, é fundamental que as crianças com até 3 anos de idade apreciem e valorizem a escuta e a leitura de histórias desde pequenas.

 - A criança cria o hábito de escutar histórias, valorizando o livro como fonte de conhecimento e entretenimento.
 - A escuta de histórias na escola oportuniza momentos prazerosos em grupo, enriquece o imaginário, amplia o vocabulário, além de familiarizar a criança com a leitura, uma prática valorizada pela sociedade.

Julia Priolli (novaescola@fvc.org.br), colaborou Carol Salles



sexta-feira, 25 de julho de 2014


O brincar em cada fase da infância



Este tema é tão importante que procuramos abordá-lo sempre que possível. Para você, educador ou cuidador, ele é essencial, porque traz informações que subsidiam o seu trabalho e o ajudam a orientar os pais.

A revista Crescer trouxe o tema do brincar em uma de suas últimas publicações. Nós sempre falamos dele, porque é pela brincadeira que a criança se apropria do mundo e de si mesma. Por isso, outros posts valem a sua leitura para ampliar as informações. É o caso dos textos “O brincar dos pequenos: dicas importantes” , “Como conduzir o brincar de suas crianças?” e “Quais brinquedos são os mais indicados à criança pequena?”.

Neste post, adaptamos dicas da matéria da Crescer de como estimular a criança pequena em cada etapa da primeira infância pelo brincar. Confira:

Até três meses – é nesse período que a criança vai aprender a sustentar a cabeça. Ajude a fortalecer os músculos do pescoço. Braços e pernas ainda ficam muito flexionados, como no útero. A dica é estendê-los suavemente para alongá-los. Coloque o bebê de bruços sobre uma superfície segura e chame sua atenção com um objeto sonoro para que levante a cabeça. Bata palmas a distância para que ele tente localizar de onde vem o som, virando a cabeça.

Três a seis meses- o tronco já está começando a se firmar. Coloque a criança sentada no colo ou na cama, com um apoio nas costas. Isso a ajudará a desenvolver essa musculatura. Deite o bebê de barriga para cima e cruze suas pernas, incentivando-o a rolar sobre si mesmo. Coloque-o de bruços em uma superfície segura e espalhe objetos com diferentes texturas para que ele possa explorá-los usando o tato.

Seis aos nove meses – as mãos estão mais fortes e a criança consegue segurar objetos grandes. Estimule a transferi-los de uma mão para a outra. Escolha brinquedos grandes, macios, não cortantes, laváveis e que não soltem pedaços, porque a criança tende a levar tudo à boca. Alguns bebês já começam a ficar de pé nessa fase. Coloque a criança no chão, dando espaço para que possa se arrastar e engatinhar. Distribua objetos a certa distância, incentivando o bebê a engatinhar até eles.

Nove meses a um ano – a criança começa a pegar objetos com os dedos polegar e indicador. Ofereça tampinhas ou bolas de papel para aprimorar esse movimento, sempre sob sua supervisão, evitando que ela coloque esses objetos na boca. Bata palmas, dê tchau, mande beijo para que o bebê imite você.

Um ano a um ano e seis meses – a criança já consegue andar sozinha. Ajude a trabalhar o equilíbrio oferecendo brinquedos que possam ser puxados ou empurrados. Ela também já pode utilizar papel e giz de cera grosso atóxico. Estimule a fazer rabiscos na folha para trabalhar a coordenação motora. Ofereça caixas de diferentes tamanhos e peça que coloque uma dentro da outra, para desenvolver a compreensão.

Um ano e seis meses a dois anos – permita que a criança folheie revistas velhas, rasgue-as e amasse as páginas, para estimular a coordenação motora. Fale os nomes das partes do corpo e peça que vá apontando, uma por uma, para despertar a consciência corporal e treinar o controle do indicador estendido quando os outros dedos estão abaixados. Estimule a chutar e fazer gol para trabalhar a agilidade das pernas.

Dois a três anos – brincadeiras como pega-pega, dar pulos e ficar apoiado em um pé só ajudam a desenvolver o equilíbrio. Para promover o senso de direção e fortalecer a musculatura das pernas, outra boa opção é pedalar o triciclo. Estimule brincadeiras com argila, massa de modelar e tinta guache, que ajudam a controlar a força na ponta dos dedos e o movimento do punho e das mãos.

Três a quatro anos – empilhar de seis a oito objetos estimula o controle neuromotor. Também desafie a criança a desenhar formas geométricas, começando pelo círculo, praticando a coordenação motora fina, responsável pelos movimentos mais delicados e precisos do corpo.

Quatro a cinco anos – a criança já tem habilidade e firmeza para segurar o lápis e desenhar partes do corpo humano (cabeça, tronco e pernas). Crie desafios como andar nas pontas dos pés e imitar animais utilizando todo o corpo: rastejando, se for uma cobra; saltando agachado, se for um sapo.

Cinco a seis anos – os reflexos estão mais rápidos e permitem à criança defender ou agarrar a bola com as duas mãos. Chute a gol e queimada são duas brincadeiras interessantes para essa fase. Aproveite para treinar noções como direita e esquerda, que a criança já entende.

Fonte: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal



terça-feira, 13 de maio de 2014

Orientações didáticas: Planejando uma Roda de Leitura



O que o professor precisa saber e fazer para ler para crianças pequenas?

Ler é diferente de contar histórias para as crianças, porém ambas experiências são muito importantes para os pequenos.
Além disso, quem lê para uma criança não lhe transmite apenas o conteúdo da história; promovendo seu encontro com a leitura, possibilita-lhe adquirir um modelo de leitor e desenvolve nela o prazer de ler e o sentido de valor pelo livro.

Orientações para planejar uma boa situação de leitura:

1.    Antes de mais nada, acredite que as crianças aprendem e se desenvolvem com essa situações. 

As experiências de leitura pelo professor possibilita às crianças, uma oportunidade para a ampliar seu repertório e conhecer muitas histórias, contos e textos diversos, além da aprendizagem de comportamentos leitores permitindo que elas construam uma rede de significados que  as auxiliará a compreender melhor as estruturas da leitura e da escrita.


2.    Observe as relações que as crianças estabelecem com o livro e a leitura mesmo muito antes de saberem ler.

Há muitas coisas que as crianças podem aprender sobre a leitura mesmo antes de saber ler:
Que nos livros tem histórias
Que é preciso virar as pagina do livro para ler as partes da história  e que existe um sentido correto para se virar paginas e ler.
Que a história não está só nas figuras, mas numa porção de “risquinhos” que aparecem no papel, por isso é possível  ler mesmo as histórias que não tem figura.
Que quando a gente conta a história pode mudar as palavras mas que quando se lê é sempre igualzinho.
Que a linguagem que usamos para escrever/ ler é diferente da que usamos para falar e é possível perceber as crianças apropriando-se  discursivamente das estruturas convencionais da linguagem escrita tal qual elas aparecem nos diferentes textos (“era uma vez” ,”levou-a ao jardim”) mesmo sem nunca tê-los lido convencionalmente, mas com uma intimidade que só é possível a quem é oportunizado este contato através de leituras constantes e do uso social da leitura e escrita.

3 Goste do que vai ler

Encantar-se para encantar as crianças pois que a condição básica para formação de um leitor é o prazer pela leitura.  
4 Crie situações diárias de leitura com e para as crianças 

A regularidade é importante e fundamental na construção de uma familiaridade necessária para a construção do hábito e a apropriação das convenções da língua escrita 


5. Organize esse momento da rotina planejando com intencionalidade

Pensar em um espaço acolhedor para as crianças que pode ser na própria sala num canto da sala, num tapete, ou embaixo de uma árvore . Organizá-los de forma que todos possam visualizar o professor.

È importante cuidar também para que esses momentos não sofram interrupções ( Ex:deixar avisado na porta da sala que é hora da leitura)


6. Escolha o livro antes, considerando os critérios adequados a sua intenção e as características, possibilidades e potencialidades seu grupo de crianças

Ajustar sua escolha a sua intencionalidade, cuidando para que esses critérios considerem principalmente a qualidade das obras escolhidas.

6. Conheça muito bem o texto,

 Ensaiar antes a leitura para evitar “tropeços”, utilizar a voz de forma clara e ler com boa entonação e interpretação, dando  vida a história.


Durante a leitura ele deve demonstrar atitude cuidadosa de quem lê para o outro e é referência de leitor: preocupando-se com a entonação , mostrando-se interessado, surpreso, emocionado. Também deve manter-se fiel ao texto, explicitando a diferença entre ler e contar histórias. (OCs)

7. Converse com as crianças antes e depois dos momentos de leitura

 Mostrar o livro, falar da história que será lida e porque a escolheu, citar o nome de quem escreveu/ ilustrou, explorar a capa e o título (ou até mesmo as imagens), ler na contra capa o resumo /sinopse do livro para que as crianças possam antecipar idéias sobre a história que será lida.

8. Considere a relevância de se mostrar ou não as imagens no corpo do texto

Algumas obras pedem a leitura conjunta do texto e da imagem  pois que se complementam, porém, muitas vezes  a preocupação em parar e mostrar as imagens compromete a cadência da leitura. Pensar em formas diferentes de se organizar as crianças ( atrás do leitor de frente para o livro) ou a posição do livro ( no chão no centro da roda por ex.) ou ainda considerar a organização de leitura em grupos menores pode fazer parte do planejamento do professor dependendo da sua intencionalidade. Assim como explorar antes as imagens com as crianças ou ainda combinar que elas irão imaginar as cenas da história. 

9. Respeite o texto sem simplificá-lo ou mudar as palavras ou pular trechos

Lembrando sempre que o leitor apenas empresta sua voz ao autor e, portanto, não tem permissão para alterá-lo È importante que as crianças ouçam novas.expressões e palavras que serão compreendidas dentro do contexto da leitura.  


10. Mantenha uma postura leitora que possa servir como uma referência

È importante que o professor enquanto parceiro cultural seja uma referência de leitor no qual a criança se apóia para construir significados para tanto, durante a leitura ele deve demonstrar atitude cuidadosa de quem lê para o outro se preocupando com sua postura, entonação, mostrando-se interessado e envolvido com o texto.


11. Disponibilize o livro para que o toquem, folheiem, ou até mesmo recontem a história.

Esse é um instante bem interessante para observar as crianças e as relações que estabeleceriam com o livro/ história logo depois da leitura oportunizada pelo educador.

12. Converse sobre a história

Abrir espaços para que falem sobre a leitura/ história Perguntando e (...) opinando sobre o que leu, colocando seus pontos de vista e ajudar as crianças a comentar a leitura, colaborando assim com a construção coletiva de sentidos para o texto. (OCs)


13. Oportunize que as crianças escolham outros livros para que sejam fossem lidos 
 Converse com as crianças sobre outros livros e histórias. Oportunize que elas possam escolhê-los para as novas leituras. escolher uma história ou um livro também é um procedimento leitor

14. Garanta o acesso das crianças aos livros
As crianças devem ter contato direto com os livros para folheá-los e explorá-los por conta própria, por isso é importante que o professor organize um canto permanente de leitura na sala  onde elas possam ter livre acesso aos livros. Esse contato direto com o livro ( ...) possibilita não só a construção de procedimentos de manuseio desses materiais e de hábitos como também lhes permite explorar possibilidades de leitura ainda que elas não saibam ler convencionalmente: as imagens, por exemplo, informam e ajudam a antecipar muito do que será explicitado por meio das palavras.(OCs)


Minha foto
MINI CURRÍCULO Coordenadora Pedagógica da Rede Municipal de São Paulo Graduada pela Universidade Paulista-UNIP, Pós Graduada em Docência do Ensino Superior, Educação Infantil e Gestão escolar - ISE Vera Cruz. EXPERIÊNCIAS PROFISSIONAIS Formadora da DRE de Itaquera Educação Infantil e Informática educativa Formadora no Ponto de Cultura FAFE-USP (Oficina-Documentação Pedagógica-Tecnologias a Favor da Educação) Formadora no programa ADI Magistério - formação de professores- Fundação Vanzoline Professora de educação infantil e ensino fundamental I e de oficinas de arte no ensino fundamental II- Escola Tecnica Walter Belian

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014




ORGANIZAÇÃO DAS TURMAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL –CRECHE

ESTRUTURA OPERACIONAL

Divisão das turmas
A opção por dividir o atendimento de crianças na creche em berçário e maternal justifica-se na medida em que a criança passa por processos biopsicossociais distintos no período que corresponde dos zero aos dois anos e dos dois aos quatro anos. Assim, o grupamento das crianças dessas faixas etárias poderá efetivar-se conforme a seguir:

Bercário I

No Berçário I serão enturmados  os bebês de zero  a doze/quinze meses, os quais, por sua fragilidade, são incapazes de sobreviver por recursos próprios, situação que deverá ser compensada com uma relação de carinho e atenção da mãe e, no caso da creche, do educador. Isso leva a um atendimento permanente e individualizado por parte do professor que deverá trabalhar com cada bebê, a cada dia, observando suas reações e seus progressos pois,  nessa fase, o desenvolvimento das crianças se dá num ritmo bastante acelerado.

Bercário II

No Berçário II serão agrupados os bebês de doze/quinze meses a dois anos. A criança agora já se movimenta com mais autonomia, fica em pé e, na maioria dos casos, já caminha, deslocando-se pelo espaço físico disponível. Com o movimento tornam-se interessantes apenas os objetos que podem ser carregados de um lado para o outro.
Por volta dos dois anos de idade surge um novo componente – a oralidade. Nessa fase, há necessidade de atenção às reações de cada criança e ao grupo como um todo. As crianças estão na fase egocêntrica e brincam individualmente, mesmo quando estão em grupos; é também nessa fase que acontecem, com freqüência, os atropelos físicos (mordidas, agarrões, empurrões). É no plano das ações que elas começam a perceber o outro, as coisas a sua volta e a necessidade de fazer algumas negociações.

Maternal I

No Maternal I serão enturmadas as crianças de dois a três anos. Elas agora já possuem maior maturidade motora, que lhes permite explorar objetos e tudo o mais que existir ao seu redor; por meio dos jogos simbólicos do faz-de-conta, aceleram o desenvolvimento da linguagem e da representação. As crianças dessa idade, que já andam e se movimentam livremente, são capazes de extraordinárias observações sobre o que ocorre à sua volta, procurando muitas vezes infatigavelmente suas causas; costumam fazer relações entre as concepções que têm do mundo exterior e as imagens do próprio corpo. Nessa fase, a criança ainda tem dificuldade em repartir seus brinquedos. O trabalho em grupo, ainda que com pouca duração, ajudar-lhes-á a sair do egocentrismo.

Maternal II

No Maternal II serão enturmadas as crianças com três anos de idade que estão em franca expansão do ponto de vista físico, emocional e cognitivo. Usufruindo das conquistas realizadas, essas crianças encontram-se necessitadas de novos e mais complexos desafios.
É preciso estar atento a suas falas, a seus gestos, a suas escolhas e atitudes e a produções diversas, para que se possa identificar desejos, necessidades e desafios que estejam demandando. Ela está ficando mais sociável e esporadicamente consegue ser cooperativa no grupo de convívio. Sua oralidade está se desenvolvendo bastante e ela se interessa cada vez mais pelas histórias contadas e/ou representadas, interagindo, literalmente “fisicamente e oralmente” com o conhecimento.
Aqui ocorre o desenvolvimento das crianças nos momentos de rotina: sono, higiene e alimentação. É a hora de encorajá-las a fazer escolhas de alimentos, roupas e brinquedos, a ir sozinhas ao banheiro, a comer sozinhas, a arrumar seus pertences etc.

Ana Paula Alves dos Santos. Psicóloga, formada Pela Universidade Estadual Paulista de Bauru e Especialista em Psicologia do Desenvolvimento e Processos de Ensino-Aprendizagem pela mesma instiuição.Professora de Ensino Infantil e de Ensino Especial na Prefeitura Municipal de Bauru. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014


Bebês e crianças abaixo de 2 anos devem aprender brincando livremente, longe das telas. É o que a Academia Americana de Pediatria recomenda




Divulgada nesta terça-feira a nova recomendação da Academia Americana de Pediatria (AAP) para que crianças abaixo de 2 anos de idade não fiquem diante de telas de TVs, tablets, celulares, computadores, etc. Para compreender melhor o mundo, elas precisam aprender brincando livremente, interagindo com outras pessoas ou se divertindo sozinhas.
A tentação para entreter bebês e crianças em mídias eletrônicas é cada vez mais presente, com telas cercando todos os cômodos da casa, carro, lojas, etc. As novas recomendações da Academia Americana de Pediatria diz que há melhores maneiras de ajudar as crianças a se desenvolverem nesta idade crítica do desenvolvimento infantil. Em uma pesquisa recente, 90% dos pais disseram que crianças abaixo de 2 anos utilizam alguma forma de mídia eletrônica. Em média, assistem a uma ou duas horas de TV por dia. Na idade de 3 anos, quase um terço das crianças têm uma TV em seu quarto de dormir. Os pais que acreditam que programas educativos na TV “são muito importantes” para o desenvolvimento têm duas vezes mais chance de ligar o aparelho durante a maioria do tempo todos os dias.
A diretiva da AAP “Media Use by Children Younger Than Two Years” foi divulgada nesta terça, 18 de outubro de 2011, no AAP National Conference & Exhibition, em Boston, e será publicada pelo periódico Pediatrics em novembro.
A AAP havia divulgado, em 1999, uma orientação que dizia que crianças até 2 anos de idade não deveriam assistir TV. Na época, existiam dados limitados sobre o assunto, mas a AAP acreditava que havia mais efeitos potencialmente negativos do que positivos da exposição à mídia eletrônica nesta faixa etária. Dados mais recentes confirmam esta possibilidade e a AAP manteve a recomendação para manter as crianças com idade inferior a 2 anos longe das telas o maior tempo possível.
Hoje se conhece melhor o desenvolvimento do cérebro das crianças neste estágio precoce da vida, as melhores maneiras de ajudá-los a aprender e os efeitos que os vários tipos de estimulação e atividades têm sobre esse processo.
"As preocupações levantadas na diretiva da AAP são ainda mais relevantes agora, o que levou a desenvolver uma orientação mais abrangente em torno dessa faixa etária", disse o Dr. Brown, membro do AAP Council on Communications and Media.
O relatório se propôs a responder duas perguntas:
  1. Vídeos e programas de televisão têm algum valor educativo para crianças menores de 2 anos?
  2. Existe algum prejuízo para as crianças desta idade que assistem a esses programas?
Muitos programas em vídeos para bebês e crianças são comercializados como sendo “educativos”, mas não há evidências que suportam esta afirmação. Programas de qualidade são educativos para crianças apenas quando elas compreendem o contexto e o conteúdo do vídeo exibido. Os estudos mostram que crianças acima de 2 anos são capazes de ter esta compreensão.
Tempo de brincadeira livre, sem regras ou planos estruturados, são mais valiosos para o desenvolvimento cerebral do que o uso da mídia eletrônica. As crianças aprendem a pensar com criatividade, resolver problemas, desenvolver suas habilidades de raciocínio e de motricidade em idades precoces através de brincadeiras não estruturadas e desconectadas. O tempo de brincadeira livre também as ensina como se entreter sozinhas.
Crianças pequenas aprendem melhor com a interação com outras pessoas e não com as telas. Elas têm necessidade de interagir com outros seres humanos.
Qualquer efeito positivo da televisão para bebês e crianças ainda está em questão, mas os benefícios da interação entre pais e filhos já estão provados. Abaixo de dois anos, conversar, cantar, ler, ouvir músicas ou brincar livremente são muito mais importantes para o desenvolvimento infantil do que qualquer programa de televisão.
Os pais que assistem aos vídeos com seus filhos podem colaborar para melhorar a compreensão das crianças, mas elas aprendem mais quando assistem apresentações ao vivo (como teatros) do que em programas televisionados.
Quando os pais estão assistindo seus próprios programas no mesmo ambiente das crianças, a chamada “mídia de fundo” pode distrair e diminuir a interação dos pais com a criança. Esta presença pode interferir no aprendizado de jogos e outras atividades.
Ver televisão na cama pode levar a maus hábitos de sono e horários irregulares, o que pode afetar o humor, o comportamento e o aprendizado dos pequenos.
Crianças jovens com excesso de exposição à mídia eletrônica podem correr o risco de atrasos no desenvolvimento da linguagem quando entram na escola. No entanto, mais pesquisas são necessárias para entender as razões desses atrasos.
O relatório recomenda que os pais ou pessoas que cuidam de crianças:
  • Estabeleçam limites de tempo para a exposição a mídias eletrônicas para crianças com menos de dois anos de idade, tendo em mente que a AAP desencoraja o uso deste tipo de atividade para esta faixa etária. Os pais que optarem pelo uso deste tipo de distração para seus filhos, devem ter uma estratégia de gerenciamento de tal atividade.
  • Ao invés de telas, optem por brincadeiras livres supervisionadas para bebês e crianças jovens durante o tempo em que os pais não podem se sentar para participar ativamente das brincadeiras. Por exemplo, ofereçam blocos de montar e coloque-os no chão nas proximidades para que as crianças brinquem, enquanto os pais realizam tarefas domésticas, etc.
  • Evitem colocar televisão no quarto de dormir da criança.
  • Reconheçam que a utilização de mídia eletrônica pelos pais pode ter efeitos negativos nas crianças.
O relatório também recomenda mais pesquisas sobre os efeitos em longo prazo da exposição precoce à mídia eletrônica na saúde física, mental e social futura das crianças.
De acordo com o Dr. Brown, “o melhor a fazer para as crianças jovens é lhes dar a chance de brincar livremente, com os pais ou sozinhas. As crianças precisam disso para entender como o mundo funciona.”
NEWS.MED.BR, 2011. Bebês e crianças abaixo de 2 anos devem aprender brincando livremente, longe das telas. É o que a Academia Americana de Pediatria recomenda. Disponível em: <http://www.news.med.br/p/saude/243945/bebes-e-criancas-abaixo-de-2-anos-devem-aprender-brincando-livremente-longe-das-telas-e-o-que-a-academia-americana-de-pediatria-recomenda.htm>. Acesso em: 14 fev. 2014.