sexta-feira, 24 de março de 2017

As quatro dimensões da Abordagem Pikleriana e sua relação dinâmica



Ao estudar a Abordagem Emmi Pikler encontramos princípios que a norteiam promovendo o pleno desenvolvimento infantil. Estes princípios são: a valorização do vínculo entre cuidador (e/ou mãe) e o bebê; o reconhecimento e o respeito à individualidade dos bebês; a promoção da autonomia através da liberdade de movimentos, do brincar livre; e o respeito ao tempo e espaço necessário ao desenvolvimento sadio. No entanto, estes princípios são descritos de diversas formas e estão tão interligados que fica difícil falar sobre um deles sem mencionar os outros.
Pensando e estudando sobre estes princípios para divulgar a Abordagem Emmi Pikler em cursos oferecidos para educadores do ensino infantil, foi possível identificar quatro dimensões presentes nos princípios da Abordagem Emmi Pikler que nos ajudam a compreender de forma dinâmica a relação entre eles.
 
Terra
A primeira dimensão é representada pelo elemento terra, pois trata-se de uma dimensão física, material, representada pelo imóvel, pelas instalações e equipamentos utilizados. Pode ser observada na organização do espaço físico para o banho, para a alimentação, o brincar e o sono.
O ambiente precisa ser amplo o bastante para que os bebês tenham espaço para se movimentar livremente desenvolvendo suas capacidades motoras enquanto brincam: deitar de lado, de bruços, rolar, rastejar, engatinhar, sentar, ficar de pé e andar.
Os espaços devem ser aconchegantes e seguros (cercados) e o piso quente, como por exemplo: madeira ou MDF, para que as crianças se locomovam com liberdade e possam interagir com seus pares.
A partir de 3 meses, os bebês ficam nos berços apenas enquanto dormem ou repousam. Quando despertos, ficam na sala ou ao ar livre, rodeados de objetos simples e variados, com os quais possam brincar de maneira autônoma.
É preciso que os brinquedos estejam a uma distância acessível para que eles possam alcançá-los com as suas mãos. Eles não devem estar suspensos ou fixados.
Exemplo de objetos adequados para bebês: copos de plástico, pratos de inox ou plástico, pequenas panelas, vasilhas, argolas de madeira, cestos, tecidos pequenos coloridos e estampados, blocos de madeira, pequenos animais de feltro ou tecido, bonecas simples e pequenas, bacias de plástico ou inox, etc.
O educador organiza e transforma o espaço para facilitar uma atividade variada, sempre iniciada pela própria criança, sem interferir diretamente em suas brincadeiras ou em seus movimentos.
No espaço do brincar são utilizados cubos de madeira para que a criança possa subir e descer, bem como um labirinto (a criança pode entrar e sair, subir e descer) e um trepa-trepa.
No jardim externo há um tanque de areia, trepa-trepas, uma piscina bem rasa (utilizada no verão), estruturas metálicas que as crianças podem entrar e sair e escadas.
O trocador é alto, facilitando o trabalho da educadora e tem uma grade de proteção. Ao lado do trocador, ficam as fraldas e o material necessário para o banho.
As roupas utilizadas pelos bebês devem ser confortáveis facilitando os movimentos.
A alimentação é oferecida individualmente em um espaço reservado, enquanto a criança ainda não se senta sozinha, ela será alimentada no colo da educadora. Depois que a criança passa a se sentar sozinha, ela será acomodada em uma mesa e cadeira fixa (parece uma carteira escolar). E só depois de aprender a se alimentar sozinha, ela irá passar a se alimentar junto com os seus pares, sentada a uma mesa.
Durante o dia as crianças dormem em berços ao ar livre.
A saúde física dos bebês e crianças recebe uma atenção especial, pois é a base necessária para o pleno desenvolvimento infantil.
 
Água
A segunda dimensão é representada pelo elemento água, pois são os processos que fluem diariamente no tempo, isto é, a metodologia de cuidados, a técnica e procedimentos utilizados nos cuidados diários, no banho, na troca de fraldas, na alimentação e no preparo para o sono.
Cabe ao cuidador estabelecer uma rotina de cuidados que respeite o ritmo individual da criança, ao mesmo tempo em que lhe dá continência, segurança afetiva e garanta um desenvolvimento físico saudável. Quando se estabelece horário para o banho, para as refeições (papinha), para o sono, a criança se acostuma com este ritmo, sentindo-se mais segura, proporcionando segurança e confiança ao bebê e tranquilidade para o cuidador.
Algumas orientações dadas para às educadoras:
  • Segurar a mamadeira pela extremidade inferior para que o bebê tenha espaço para colocar suas mãos
  • A alimentação deve ser um momento agradável. Jamais se deve dar uma colher a mais de comida do que as que forem aceitas com prazer
  • Não interromper a educadora que estiver dando a refeição para uma criança, principalmente as que estão entre 12 e 15 meses
 
O banho deve ser preparado com antecedência, deixando todo o material necessário disponível e organizado, esta preparação também faz parte da rotina. Na Abordagem Emmi Pikler há uma técnica específica de banho que começa no trocador com algodão e óleo. Todo o corpo do bebê é limpo primeiro com óleo, depois com uma luva macia o bebê é ensaboado e posteriormente colocado na banheira para se retirar o sabão. A educadora volta para o trocador com o bebê para enxugá-lo e vesti-lo. O vídeo O tempo do bebê: Banho e cuidados – Primeira parte: Crianças de 0 a 6 meses – Julianna Vámos / Irén Csatári – Associação Pikler-Lóczy da Hungria / França, mostra em detalhes toda a técnica de banho.
Cabe a educadora fazer anotações sobre o desenvolvimento de cada criança, observando o desenvolvimento motor, o desenvolvimento intelectual (o brincar e a coordenação viso-motora), o desenvolvimento da fala, as atitudes durante os cuidados (banho, troca de fraldas, vestimenta e alimentação) estas anotações diárias serão discutidas em encontros de supervisão semanais ou quinzenais.
O número e o ritmo das reuniões com os pais também fazem parte desta dimensão, faz parte dos processos realizados dentro da instituição ou escola.
 
Ar
A terceira dimensão é representada pelo elemento ar, trata-se da atmosfera das relações.
Os gregos tinham duas palavras para designar o tempo, uma era Cronos (o senhor do tempo), o tempo cronológico medido pelo relógio, o tempo quantitativo; e o outra era Kairós, o tempo vivido, o tempo das relações, o tempo qualitativo.
A valorização do cuidado, a atenção e o tempo necessário para desenvolver vínculos saudáveis e de confiança entre os bebês e os adultos.
Ao nascer o bebê ainda se sente parte da mãe, não tem noção da sua individualidade e precisa de um adulto de referência que garanta a sua sobrevivência e valorize a sua existência dando a ele um nome e oferecendo os cuidados adequados. Deste modo, ele pode formar através dos seus sentidos e do seu desenvolvimento motor uma primeira imagem de si mesmo, conquistando a possibilidade de identificar-se como um ser diferente da mãe ou cuidadora, um indivíduo.
É durante os cuidados cotidianos que a mãe ou o cuidador se relaciona com o bebê. Tem início um diálogo através de sinais não verbais, por parte do bebê, que estabelece contato visual e respostas através de gestos, relaxamento ou tensão a cada ação ou estímulo recebido.
O adulto informando o que será feito durante os cuidados e buscando uma resposta a cada interação estará convidando o bebê a participar. Estimulando a autonomia desde muito cedo contando sempre com a participação possível do bebê em cada fase. Ajudando na formação da sua imagem corporal (consciência do próprio corpo) ao nomear as partes do corpo do bebê que forem tocadas. E colaborando para a compreensão e aquisição da fala.
É o contato entre o adulto e a criança que proporciona a aprendizagem da cultura e desenvolve a capacidade de se relacionar, a socialização.
Orientações dadas às educadoras para favorecer o encontro e estabelecer um vínculo significativo:
  • Fazer gestos delicados e com dedicação
  • Olhar nos olhos dos bebês
  • Falar com os bebês durante os cuidados diários
  • Informar o que vai acontecer
  • Sempre pedir a colaboração, mesmo quando o bebê ainda é bem pequeno
  • Não fazer nada com pressa ou afobação sempre dar o tempo necessário para que o bebê aproveite a experiência
  • Busque a resposta do bebê
  • Não fazer nada “para” o bebê, mas sim “com” o bebê
  • Ver a criança como um ser ativo, o sujeito da aventura do seu próprio desenvolvimento
  • Observar e acompanhar cada pequena descoberta, conquista, surpresa ou admiração
  • Perceber a originalidade de cada criança
 
Como é diferente a imagem do mundo que uma criança recebe quando mãos silenciosas, pacientes, cuidadosas e ainda seguras e resolutas cuidam dela; e como diferente o mundo parece ser quando estas mãos são impacientes, rudes, apressadas, inquietas e nervosas.” Emmi Pikler
 
O Sol
A quarta dimensão é representada pelo sol, o elemento fogo. Trata-se da identidade essencial da abordagem que aquece e fortifica, dando sentido e significado a todas as outras dimensões.
A Abordagem Pikler-Lóczy tem como um dos seus valores fundamentais o profundo respeito pela individualidade humana e o reconhecimento de que “toda criança é boa e competente”.
Sua missão é promover o desenvolvimento motor, cognitivo, emocional, social e ético; o pleno desenvolvimento infantil.
 
A relação dinâmica entre os elementos da Abordagem Pikler-Lóczy
A terra, os espaços físicos e os materiais e equipamentos necessários para o desenvolvimento da abordagem, são a base necessária, o leito do rio em que a água corre. A água são os processos (banho, troca de fraldas, alimentação e sono) que fluem, organizados ritmicamente no tempo. O ar é a atmosfera, a disposição, o envolvimento, a presença e a atenção com que as atividades são desenvolvidas formando o ambiente das relações entre todos os presentes na instituição. E o sol (o fogo) é o que dá sentido e significado ao trabalho realizado, a visão que se tem da criança e a compreensão do desenvolvimento humano que é confirmada e retroalimentada pela própria atuação, através dos resultados positivos do trabalho realizado.
 
Bibliografia 
 
BOWLBY, J. 1988. “Cuidados Maternos e saúde mental”. São Paulo, SP: Martins Fontes Editora.
CHOKLER, M. “A história das ideias e coerência na praxe da Atenção Precoce do Desenvolvimento Infantil”.
DAVID M.; APPEL G. – Lóczy: An unusual approach to mothering – Pikler-Lóczy Társaság, Budapest 2007
FALK, J.; VINCZE, M. – Bathing the baby: the art of care – Pikler-Lóczy – Társaság Budapest, 2006.
FALK, J. – 1994. “Educar os Três Primeiros anos – a experiência de Lóczy”. São Paulo. JM Editora Ltda.
FALK, J. – 1997. “Mirar al Nino – La Escala de Desarrollo”. Instituto Pikler (Lóczy). Argentina. Ediciones Ariana.
IGNÁCIO, R. K. – 2002. “Aprendendo a andar, aprendendo a confiar – O desenvolvimento da criança pequena segundo Emmi Pikler” Edições Mainumby.
KÁLLÓ, E.; BALOG, G. – Los Orígenes del Juego Libre Magyarországi – Pikler-Lóczy Társaság Budapest, 2013
KOVACH, A. Beverly; PATRICK, Susan; BRILEY, J. Laura – Being with Infants & Toddlers: a curriculum that works for caregivers – LBK Publishing, Tulsa, Oklahoma, 2012.
MORAES, MB; AZEVEDO, M.F.L.; LEITE, A.C.A.; SISLA, E.C.; SOARES, M.S.M.; GIMAEL, P.; FREITAS, A.V.C.; PELIZON, M.H. – 2011. “Estudos e Reflexões de Lóczy” OMEP – Organização Mundial para Educação Pré Escolar.
NEUMANN, E.  “A criança”. S. Paulo: Editora Cultrix.
PIKLER, Emmi – Moverse em Libertad: Desarrollo de la Motricidad Global – Narcea, S.A. de Ediciones. 4º reimpressão original 1969.
TRUCHIS-Leneveu, C. “O despertar de seu filho – para um bebê ativo e calmo” – Editora Paulus – Coleção Amor e Psique


PATRÍCIA GIMAEL
Psicóloga com licenciatura pela UNESP – Bauru, bacharelado e graduação pela Universidade São Marcos – SP. Tem formação Junguiana, em Psicologia ampliada pela Antroposofia e em Formação Biográfica. Desde 2010 tem participado ativamente de cursos, no Brasil e no exterior, sobre a Abordagem Pikler, consagrada pedagogia voltada para crianças de 0 a 3 anos. Atende crianças em consultório particular e realiza orientação aos pais desde 1996. Desenvolve, coordena e é docente em projetos de formação continuada para professores da rede pública e privada de ensino com base na Pedagogia Waldorf, no estudo do desenvolvimento infantil, na neurociência e na Abordagem Pikler.



quinta-feira, 16 de março de 2017



10 coisas que você deve saber sobre objeto de transição
Não se engane pela aparência. Um simples pano ou cobertor pode ter grande importância para o desenvolvimento do seu filho


Pode ser que tenha nome próprio, pode ser que não. Em alguns casos, é um objeto, em outros, parte do corpo. Talvez tenha vida curta, ou dure por anos e anos. O mais famoso é o do personagem Linus, da Turma do Charlie Brown. Mas muito provavelmente você tem um também na sua casa, na cama do seu filho, requisitado quase sempre na hora do sono. Não é muito difícil adivinhar, não é mesmo? Seja lá qual é a forma que ele tenha em sua residência – paninho, brinquedo, naninha, cobertor ou até partes do corpo, como cabelos, orelhas ou cotovelos –, o objeto de transição é bem comum na primeira infância e importante para o desenvolvimento emocional da criança.
O objeto de transição pode ser qualquer coisa a que o bebê se apegue a partir do quarto mês de vida. Esse termo foi usado pela primeira vez em 1953, pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott. Segundo ele, nos primeiros meses de vida, graças à atenção e aos cuidados maternos que recebe, o bebê imagina que ele e sua mãe são um ser único, a mesma pessoa. Mas, com a passagem dos meses, ele vai se dando conta de sua individualidade e percebe essa divisão. Mais que isso: descobre que a mãe nem sempre está presente para saciar suas necessidades e, por isso, acaba buscando em um objeto para essa fase de transição o apoio de que precisa, especialmente na hora de dormir.

De acordo com especialistas ouvidos pela CRESCER, ele costuma ser algo que passe sensação de aconchego e segurança. Pode ser um som, uma parte do corpo, um movimento ou um cheiro – pode até ser que você nunca perceba qual é ou foi o objeto de transição do seu filho, de tão subjetiva que essa escolha é.

Uma pesquisa de 2008, das universidades de Yale (EUA) e Bristol (Inglaterra), estudou crianças de 3 a 6 anos e concluiu que, além da sensação de segurança, o apego ao objeto de transição se deve também a propriedades únicas, perceptíveis apenas para a criança, como se fosse uma “essência invisível” ou uma “aura” que rodeia o item e que o diferencia de outro qualquer. Quer saber mais sobre esse curioso recurso? Confira, a seguir, dez curiosidades sobre o tema, além de depoimentos de pais de crianças que adotaram o objeto de transição.
1. Nem toda criança tem objeto de transição
Ele entra em cena para ajudar o bebê a se sentir seguro e lidar com a descoberta do mundo que o cerca. Mas, assim como algumas crianças sentem necessidade de usar o objeto, outras não precisam – e não há nada de errado nisso.
2. Ele só pode ser escolhido por seu filho
Você até pode oferecer algum objeto como paninho ou travesseiro enquanto ele pega no sono. Mas nada garante que ele o adotará. E não adianta insistir. A escolha é pessoal, feita pelo bebê, e pode surpreender os pais. Até um cheiro ou um som – como a música que você canta para ele dormir – pode se tornar o objeto de transição. Nesses casos, talvez você nem perceba qual é o item escolhido.
3. É saudável
Ele diminui a ansiedade do bebê nos momentos de separação da mãe, além de marcar uma fase importante do desenvolvimento psíquico. Através da interação com o meio e com o objeto de transição, o bebê passa a desenvolver criatividade, imaginação, cognição e afetividade.
4. Deve ser lavado (se for mesmo preciso)
O ideal é não lavar, pois o cheiro do item costuma remeter à mãe, e isso deve ser respeitado. Porém, como algumas crianças o carregam para todo lado, é inevitável que suje. A recomendação, então, é lavar se preciso. Seu filho notará a diferença, mas deixá-lo sujo pode trazer riscos à saúde, já que entra em contato com o nariz, olhos e boca. Uma conversa em que se estabeleçam acordos é a melhor solução – você pode sugerir que ele procure um objeto substituto.
5. Um, dois, três... objetos de transição
Pode acontecer de a criança aceitar um segundo objeto enquanto o principal está fora de alcance. Também pode ser que ela escolha duas coisas ao mesmo tempo, como o cabelo da mãe e uma música, ou dedo na boca e um paninho. Mas, novamente, é a criança quem decide. Não adianta forçar para que ela tenha mais de um objeto.
6.Esqueceu em casa? Perdeu?
Se você já viajou e percebeu só quando chegou ao destino que o item de apego do seu filho ficou em casa, sabe bem o trabalho que isso pode dar. Algumas crianças sentem dificuldade para dormir, podem ficar manhosas e cair no choro. Cabe aos pais explicar a situação com clareza, independente da idade. Antes de oferecer um novo objeto, deixe seu filho tentar se adaptar com o que há disponível no local – geralmente funciona. Essa também pode ser uma chance de abandonar o hábito. “As crianças têm grande capacidade de se adaptar e encontram uma forma de lidar com a situação, seja encontrando um objeto substituto ou pegando no sono sozinhas”, explica Rita Lous, psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR).
7. Quando levar pra escola?
Seu filho até pode levar o objeto para a classe, mas só enquanto for bebê ou estiver no período de adaptação, vivendo os primeiros momentos na escola – e fizer muita questão disso. Nessa fase, ele pode precisar de um apoio. Mas, à medida que se adapta à turma e ao ambiente, a escola costuma pedir ao aluno que o guarde na mochila até o final das aulas. Depois de um tempo, alguns colégios incentivam que ele seja deixado em casa. É comum também a criança perceber que os colegas não usam e, assim, resolver parar de levar.
8. E quando é uma parte do corpo

Não há problema nenhum se for cabelo, orelha, cotovelo ou qualquer parte do corpo da própria criança ou de terceiros. Porém, quando a necessidade do “objeto” for excessiva, é preciso cuidado. Ele serve para acalmar, e não pode ser usado o tempo todo nem restringir a vida dos pais – no caso de o item ser a parte do corpo de um deles. Se isso acontecer, vale consultar um psicólogo, pois pode se tratar de alguma angústia, de uma dificuldade de o bebê se separar da mãe (e vice-versa).
9. Passou da hora
Não há idade ideal para largar o objeto de transição. Em geral, o objeto é gradualmente substituído por outros interesses e, dos 3 aos 5 anos, a criança já tem condições de deixá-lo – cada uma no seu tempo, que é emocional e não cronológico. O importante, segundo especialistas, é os pais não prejulgarem o filho. Mas, como tudo na vida, o hábito requer atenção quando é exagerado. Se após os 5 anos ou o período de adaptação na escola, a criança se recusa a ficar longe do paninho, ou ainda se o uso do objeto prejudica o convívio social dela (sofrer bullying, por exemplo), vale procurar orientação médica ou psicológica para tentar identificar o motivo do apego. Situações difíceis para ela, como a morte de alguém ou o nascimento de um irmão, podem estar por trás disso.
10. Esconder, nunca!
Os pais nunca devem dar, jogar fora ou esconder o objeto sem que a criança saiba e concorde com isso. “É uma forma de agressão. Ao tomar essa atitude, ocorre uma quebra de confiança e a criança sofre”, diz Rita.
Histórias de apego
Ter objeto de transição é mais comum do que se pensa. Veja o que dizem alguns pais:  
“Minha filha sempre dormia com um cachorro de pelúcia. Quando esquecia na casa da avó, era um choro só. Até que, sozinha, aos poucos, foi parando com o apego.”
Juliana Fonseca, mogi guaçu (sp), mãe de Camila, 4 anos
“Desde bebê, minha filha pega na minha orelha para dormir. Na primeira vez, achei que fosse só carinho. Hoje, ela faz isso em qualquer lugar, e com a orelha de quem a estiver segurando.” Paula Rosana Araújo, de Itabuna (BA), mãe de Maria Clara, 2 anos
“Com 4 meses, minha filha adotou um cobertor, naninho. Um dia, assistindo à TV, ela viu o Linus, da turma do Snoopy, que também usa um cobertor, e falou: ‘Olha, pai, é igual ao meu’.” Werik Bispo, de São Paulo (SP), mãe de Alexia, 3 anos
“O objeto da minha filha era uma boneca de pano. Até tínhamos duas iguais, para garantir caso perdesse. Mas, de repente, ela deixou de se interessar. Foi natural.” Leila torres, joinville (sc), mãe de beatriz, 2 anos
Fontes: Gláucia Faria da Silva, psicanalista e psicóloga do Hospital Infantil Sabará (SP); Melina Blanco Amarins, psicóloga e psicopedagoga do Hospital Israelita Albert Eins