O desenho na primeira infância é
uma linguagem carregada de significado que revela os sentimentos e a identidade
de seu autor. Não é uma ação casual ou mera recreação.
O termo
linguagem no contexto escolar está sempre ligado à comunicação oral e escrita
como parte integrante do processo de alfabetização, valorizando a dimensão
cognitiva como única ou mais importante no desenvolvimento da criança.
As diversas
linguagens estão ligadas às dimensões humanas: afetiva, cognitiva, artística,
sexual, lúdica, etc.
O desenho é
uma forma de expressão do universo interior infantil, cheio de criatividade e
imaginação, e um exercício de formação da identidade social e cultural da
criança.
O desenho é
a forma de raciocinar sobre o papel (Saul Steimberg). Não reproduz as coisas
que vemos mas traduz a visão que se tem delas.
Quando risca
o papel a criança tem a satisfação de deixar a sua marca.
O
desenvolvimento do grafismo é a revelação da natureza emocional e psíquica da
criança, através dos traços e sinais que revelam suas idéias, suas vontades e
suas fantasias.
Ao final dos
primeiros 12 meses, a criança já é capaz de, ocasionalmente, manter ritmos
regulares e produzir os primeiros traços gráficos, que são mais movimentos do
que representações de suas experiências pessoais ou relação com a natureza,
motivação interna ou externa.
Ainda não
sabe a função do lápis. Ao pegá-lo, pode colocá-lo na boca (reflexo de sucção –
leva tudo à boca), batê-lo, até que por acaso ou por estímulo do adulto, risca
um papel.
Passa,
então, a se interessar pelo lápis, faz um furo no papel, produz pontos e
rabiscos. É a fase da descoberta, que é
seguida por uma seqüência de comportamentos que, além de revelarem o nível de
desenvolvimento do grafismo, demonstram os ganhos na estruturação do pensamento,
sem necessariamente estarem vinculados a uma determinada faixa etária.
A seqüência pode ser descrita da
seguinte forma:
Fase desordenada.
As garatujas desordenadas são
aquelas em que os traços são fortuitos e a criança não se apercebe que de que
poderia representar qualquer coisa com eles. Muitas vezes a criança nem olha
para o que está rabiscando. Os movimentos são amplos e não respeitam os limites
do papel.
Ausência de
controle de movimentos. Uso da cor pelo simples prazer de experimentá-la.
São apenas reflexos do
desenvolvimento físico e psicológico da criança e sem intenção de representar
alguma coisa.
A figura
humana não aparece e o espaço não é totalmente utilizado. Ainda muito próxima
da rabiscação, seus desenhos variam muito: ora fracos e concentrados, ora
fortes e dispersos pelo papel.
Embora
pareça um trabalho sem sentido, deve ser estimulado pelo adulto porque a
criança tem prazer na manipulação do instrumento. Para ela é atividade lúdica
que, mesmo não comunicando qualquer pensamento, é alicerce da atividade gráfica
futura.
Na garatuja,
a criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre uma
superfície, e ela sente prazer em verificar o seu resultado.
Garatuja
controlada (rabiscação contínua)
Fase Longitudinal
Os rabiscos seguem o limite do
papel.
Aparecem aproximadamente ao dois
anos de idade.
A criança
percebe que há uma ligação entre os seus movimentos e os traços que faz. As
linhas agora são repetidas. Indo e vindo. A criança poderá passar horas
garatujando. Ficará fascinada com essa atividade que certamente estenderá para
paredes, móveis e piso.
Os movimentos são repetidos em
várias direções, principalmente na vertical e na horizontal. Há o
estabelecimento da coordenação entre a atividade visual e a motora. Existe o
controle dos movimentos. A cor ainda é usada inconscientemente. O espaço é
utilizado somente de base sinestésica, muitas vezes não saem de um mesmo lugar,
outras vezes riscam a folha inteira, misturando tudo que já
experimentaram.
Nessa fase, a rabiscação é tão
natural quanto brincar e ela adora fazê-la. A criança ainda não tem intenção de
expressar seu pensamento, mas descobre a relação entre os movimentos e os
traços que executa no papel, experimentando grande satisfação proveniente da
sensação sinestésica e do seu domínio sobre os objetos.
As linhas
podem se repetir, os traços são maiores e mais contínuos – esse controle é
reflexo do seu desenvolvimento motor e do domínio que adquire sobre o ambiente
que a rodeia.
A criança já
mostra maior constância na direção e posição dos rabiscos, podendo até escolher
uma localização pessoal, isto é, rabisca sempre determinado ponto (no alto, no
centro, à direita, à esquerda, etc.).
Com o
decorrer do tempo, as garatujas, que refletiam o prolongamento de movimentos rítmicos de ir e vir,
transformam-se em formas definidas que apresentam maior ordenação, e podem
estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginários e ou mesmo a outros
desenhos.
No final desta
fase, há a evolução para uma etapa muito importante que é a “célula”.
Fase Circular
As linhas que se fecham e
aparece a forma fechada. Ao registro da “célula” pode ir aos poucos adicionando
outro tipos de linhas.
Ocorre a auto-afirmação do
controle através de desvios do tipo de movimento, com o treino aparecem ensaios
repetidos de pequenas células ou pequenos círculos sem ainda intenção,
significado ou expressão. É a exploração do movimento circular feito com todo o
braço, que varia do tamanho de um pequeno ponto até o círculo que ocupa a folha
toda. A cor ainda é utilizada com base emocional.
Ainda não há
intencionalidade de expressão ou planejamento, isto é, a criança não faz prévia
associação entre significante e
significado, mas pode interpretar as formas que consegue desenhar. O
significado do desenho muda conforme a vontade do leitor. A criança pode interpretar
sua célula como um sol, depois, essa mesma célula pode ser uma pessoa, um
balão, etc. O fato de nomear (dar atributos às formas) mostra que a criança tem
potencial como leitor-escritor.
Garatuja
com nome
Fase
Controlada
Os rabiscos ganham nome: papai,
nenê, mamãe.
Ocorre normalmente após os três
anos e meio, como decorrência da evolução do pensamento sinestésico para o
pensamento imaginativo, o que quer dizer que já desenha com intenção (planeja,
pensa, lembra, faz ou tenta fazer).
Mistura de
movimentos com freqüentes interrupções.
Passa a
dedicar cada vez mais tempo na elaboração do desenho e já distribui melhor o
desenho por toda a folha.
O desenho deixa
de ser simples expressão motora e começa a representar coisas de sua realidade,
em geral figuras humanas. É quando afirma ao mostrar “Essa é a mamãe” ou “Aqui
sou eu pulando”.
Inicia o
registro do que tem maior conhecimento – cabeça e membros: das células saem
radiais interpretados como braços/pernas. No interior das células aparecem
pontos indicando possivelmente olhos, boca, narizes... Aos poucos vai
acrescentando outros componentes; o tronco só vem depois.
A cor é
usada para distinguir diferentes significados da garatuja.
Na maioria
das vezes, a criança faz descrição verbal do que está criando e esta “conversa”
mais parece uma comunicação consigo mesma.
O fato de
ter intencionalidade e a capacidade de descrever verbalmente o que está
desenhando devem ser explorados ao máximo, pois consistem na porta de entrada
para o desenvolvimento pleno de todos os seus dotes, talentos e também para sua
felicidade presente, porque para a criança o desenho é sempre prazeroso.
Aparecem nos
desenhos outros elementos além da figura humana, quase compondo uma cena, ainda
rudimentar. Enquanto desenha, a criança fala e conta histórias, explicando seus
rabiscos de diversas maneiras. A figura humana é mais completa com cabeça,
tronco e membros definidos com pés e mãos.
No final
desta fase a criança começará a misturar
aos seus desenhos uma escrita fictícia, traçada e forma de serras ou pequenos
elementos parecidos com os nossos signos.
Boneco girino
Tem inicio o desenho da figura humana, com
braços e pernas que saem da cabeça. Mais adiante, os membros saem do corpo.
Exagero
Não há proporção, nem
perspectiva. As figuras são grandes ou pequenas demais.
Faltam
partes do corpo ou do rosto ou do rosto. Um braço pode ser mais comprido que o
outro.
As figuras
são misturadas na folha, sem linha de base (chão e céu). Não há organização
espacial. O sol pode surgir na parte debaixo.
Descoberta da relação entre
desenho, pensamento e realidade. A criança começa a representar coisas de sua
realidade e a exprimir sua fantasia, desenhando vários objetos ou o que imagina
deles. A ação é voltada para resultados concretos, maior poder de concentração
e intensa formação de conceitos.
Desenho Espontâneo
A criança
tem a oportunidade de fazer o traçado sob o comando de sua inteligência, seguindo
uma imagem visual incorporada e retida pela mente, utilizando a imaginação e a
criação lúdica.
Ø Exercita
os músculos através da realização de movimentos cada vez mais precisos e
coordenados.
Ø Desenvolve
sentimentos de auto-afirmação, segurança e satisfação pessoal.
Pode ser
feito:
Com estímulo:
Vamos desenhar? O que você quer desenhar?
Vamos
desenhar o que nós vimos no passeio.
Vocês se
lembram da história dos três porquinhos? Vamos fazer um desenho da história?
Como era o porquinho?
Atividade
altamente sensibilizadora e estimulante dos movimentos.
O contato
direto com a tinta e o papel acalma as crianças.
De
preferência, a criança deve estar em pé, pois facilita os movimentos.
Deve ser
desenvolvida em local próximo a uma pia, balde ou bacia para a higiene das
mãos.
Pode ser com
ou sem estímulo visual.
A tinta
guache deve estar bem grossa ou espessa, misturada com um pouco de cola para
dar maior consistência e rapidez na secagem.
Os pincéis
devem ser do tipo “chato” e “redondo”.
Pode ser
executada no plano horizontal ou vertical. Nos dois planos, deve-se dar
preferência à criança pintar em pé pela maior facilidade movimentos.
O que Fazer com as Produções das Crianças?
As crianças
podem levá-las para servirem de enfeite em suas casas.
A
participação em exposições para dar destaque ao trabalho artístico infantil
aumenta a auto-estima das crianças, educadores e familiares.
Avaliação
A avaliação
deve ser sempre processual e ter um caráter de análise e reflexão sobre as
produções das crianças. Para as crianças, deve explicitar suas conquistas e as
etapas do seu processo criativo; para o professor, deve fornecer informações
sobre a adequação de sua prática para que possa estruturá-la com mais
segurança.
O desenho
infantil traduz o grau de maturidade da criança, seu equilíbrio emocional e
afetivo, seu estágio de desenvolvimento motor e cognitivo. Pode expressar
também sensações e sentimentos que a criança não conseguiria mostrar de outra
forma. Observando com atenção as linhas do desenho infantil, é possível
descobrir atrasos no ritmo de desenvolvimento, excesso de timidez ou mesmo
dificuldades de relacionamento familiar.
Quando a criança consegue evoluir das linhas retas
para a bolinha é sinal de que está concluindo o maternal. Coincidentemente, o
fechamento do círculo no papel simboliza o fechamento do ciclo básico do
desenvolvimento, importante tanto para a estruturação como indivíduo quanto
para formar a competência para a escrita.
FONTE:
BRASIL.
Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Coordenação Geral
de Educação Infantil. Referencial Curricular para a Educação Infantil, v. 3.
Brasília, 1998.
DEHEINZELIN, Monique. Como as Crianças Pintam? Revista
Criança, MEC/SEF, Brasil, n. 35, p.22-25, dez. 2001.
REVISTA NOVA ESCOLA. Pequenos Artistas. Tatiana Achcar.
Edição 192. maio.2006.
RIZZO, Gilda. Educação Pré-escolar.