As quatro dimensões da Abordagem Pikleriana e sua relação dinâmica
Ao
estudar a Abordagem Emmi Pikler encontramos princípios que a
norteiam promovendo o pleno desenvolvimento infantil. Estes
princípios são: a valorização do vínculo entre cuidador (e/ou
mãe) e o bebê; o reconhecimento e o respeito à individualidade dos
bebês; a promoção da autonomia através da liberdade de
movimentos, do brincar livre; e o respeito ao tempo e espaço
necessário ao desenvolvimento sadio. No entanto, estes princípios
são descritos de diversas formas e estão tão interligados que fica
difícil falar sobre um deles sem mencionar os outros.
Pensando
e estudando sobre estes princípios para divulgar a Abordagem Emmi
Pikler em cursos oferecidos para educadores do ensino infantil, foi
possível identificar quatro dimensões presentes nos princípios da
Abordagem Emmi Pikler que nos ajudam a compreender de forma dinâmica
a relação entre eles.
Terra
A
primeira dimensão é representada pelo elemento terra, pois trata-se
de uma dimensão física, material, representada pelo imóvel, pelas
instalações e equipamentos utilizados. Pode ser observada na
organização do espaço físico para o banho, para a alimentação,
o brincar e o sono.
O
ambiente precisa ser amplo o bastante para que os bebês tenham
espaço para se movimentar livremente desenvolvendo suas capacidades
motoras enquanto brincam: deitar de lado, de bruços, rolar,
rastejar, engatinhar, sentar, ficar de pé e andar.
Os
espaços devem ser aconchegantes e seguros (cercados) e o piso
quente, como por exemplo: madeira ou MDF, para que as crianças se
locomovam com liberdade e possam interagir com seus pares.
A
partir de 3 meses, os bebês ficam nos berços apenas enquanto dormem
ou repousam. Quando despertos, ficam na sala ou ao ar livre, rodeados
de objetos simples e variados, com os quais possam brincar de maneira
autônoma.
É
preciso que os brinquedos estejam a uma distância acessível para
que eles possam alcançá-los com as suas mãos. Eles não devem
estar suspensos ou fixados.
Exemplo
de objetos adequados para bebês: copos de plástico, pratos de inox
ou plástico, pequenas panelas, vasilhas, argolas de madeira, cestos,
tecidos pequenos coloridos e estampados, blocos de madeira, pequenos
animais de feltro ou tecido, bonecas simples e pequenas, bacias de
plástico ou inox, etc.
O
educador organiza e transforma o espaço para facilitar uma atividade
variada, sempre iniciada pela própria criança, sem interferir
diretamente em suas brincadeiras ou em seus movimentos.
No
espaço do brincar são utilizados cubos de madeira para que a
criança possa subir e descer, bem como um labirinto (a criança pode
entrar e sair, subir e descer) e um trepa-trepa.
No
jardim externo há um tanque de areia, trepa-trepas, uma piscina bem
rasa (utilizada no verão), estruturas metálicas que as crianças
podem entrar e sair e escadas.
O
trocador é alto, facilitando o trabalho da educadora e tem uma grade
de proteção. Ao lado do trocador, ficam as fraldas e o material
necessário para o banho.
As
roupas utilizadas pelos bebês devem ser confortáveis facilitando os
movimentos.
A
alimentação é oferecida individualmente em um espaço reservado,
enquanto a criança ainda não se senta sozinha, ela será alimentada
no colo da educadora. Depois que a criança passa a se sentar
sozinha, ela será acomodada em uma mesa e cadeira fixa (parece uma
carteira escolar). E só depois de aprender a se alimentar sozinha,
ela irá passar a se alimentar junto com os seus pares, sentada a uma
mesa.
Durante
o dia as crianças dormem em berços ao ar livre.
A
saúde física dos bebês e crianças recebe uma atenção especial,
pois é a base necessária para o pleno desenvolvimento infantil.
Água
A
segunda dimensão é representada pelo elemento água, pois são os
processos que fluem diariamente no tempo, isto é, a metodologia de
cuidados, a técnica e procedimentos utilizados nos cuidados diários,
no banho, na troca de fraldas, na alimentação e no preparo para o
sono.
Cabe
ao cuidador estabelecer uma rotina de cuidados que respeite o ritmo
individual da criança, ao mesmo tempo em que lhe dá continência,
segurança afetiva e garanta um desenvolvimento físico saudável.
Quando se estabelece horário para o banho, para as refeições
(papinha), para o sono, a criança se acostuma com este ritmo,
sentindo-se mais segura, proporcionando segurança e confiança ao
bebê e tranquilidade para o cuidador.
Algumas
orientações dadas para às educadoras:
-
Segurar a mamadeira pela extremidade inferior para que o bebê tenha espaço para colocar suas mãos
-
A alimentação deve ser um momento agradável. Jamais se deve dar uma colher a mais de comida do que as que forem aceitas com prazer
-
Não interromper a educadora que estiver dando a refeição para uma criança, principalmente as que estão entre 12 e 15 meses
O
banho deve ser preparado com antecedência, deixando todo o material
necessário disponível e organizado, esta preparação também faz
parte da rotina. Na Abordagem Emmi Pikler há uma técnica específica
de banho que começa no trocador com algodão e óleo. Todo o corpo
do bebê é limpo primeiro com óleo, depois com uma luva macia o
bebê é ensaboado e posteriormente colocado na banheira para se
retirar o sabão. A educadora volta para o trocador com o bebê para
enxugá-lo e vesti-lo. O vídeo O
tempo do bebê: Banho e cuidados – Primeira parte: Crianças de 0 a
6 meses –
Julianna Vámos / Irén Csatári – Associação Pikler-Lóczy da
Hungria / França, mostra em detalhes toda a técnica de banho.
Cabe
a educadora fazer anotações sobre o desenvolvimento de cada
criança, observando o desenvolvimento motor, o desenvolvimento
intelectual (o brincar e a coordenação viso-motora), o
desenvolvimento da fala, as atitudes durante os cuidados (banho,
troca de fraldas, vestimenta e alimentação) estas anotações
diárias serão discutidas em encontros de supervisão semanais ou
quinzenais.
O
número e o ritmo das reuniões com os pais também fazem parte desta
dimensão, faz parte dos processos realizados dentro da instituição
ou escola.
Ar
A
terceira dimensão é representada pelo elemento ar, trata-se da
atmosfera das relações.
Os
gregos tinham duas palavras para designar o tempo, uma era Cronos (o
senhor do tempo), o tempo cronológico medido pelo relógio, o tempo
quantitativo; e o outra era Kairós, o tempo vivido, o tempo das
relações, o tempo qualitativo.
A
valorização do cuidado, a atenção e o tempo necessário para
desenvolver vínculos saudáveis e de confiança entre os bebês e os
adultos.
Ao
nascer o bebê ainda se sente parte da mãe, não tem noção da sua
individualidade e precisa de um adulto de referência que garanta a
sua sobrevivência e valorize a sua existência dando a ele um nome e
oferecendo os cuidados adequados. Deste modo, ele pode formar através
dos seus sentidos e do seu desenvolvimento motor uma primeira imagem
de si mesmo, conquistando a possibilidade de identificar-se como um
ser diferente da mãe ou cuidadora, um indivíduo.
É
durante os cuidados cotidianos que a mãe ou o cuidador se relaciona
com o bebê. Tem início um diálogo através de sinais não verbais,
por parte do bebê, que estabelece contato visual e respostas através
de gestos, relaxamento ou tensão a cada ação ou estímulo
recebido.
O
adulto informando o que será feito durante os cuidados e buscando
uma resposta a cada interação estará convidando o bebê a
participar. Estimulando a autonomia desde muito cedo contando sempre
com a participação possível do bebê em cada fase. Ajudando na
formação da sua imagem corporal (consciência do próprio corpo) ao
nomear as partes do corpo do bebê que forem tocadas. E colaborando
para a compreensão e aquisição da fala.
É
o contato entre o adulto e a criança que proporciona a aprendizagem
da cultura e desenvolve a capacidade de se relacionar, a
socialização.
Orientações
dadas às educadoras para favorecer o encontro e estabelecer um
vínculo significativo:
-
Fazer gestos delicados e com dedicação
-
Olhar nos olhos dos bebês
-
Falar com os bebês durante os cuidados diários
-
Informar o que vai acontecer
-
Sempre pedir a colaboração, mesmo quando o bebê ainda é bem pequeno
-
Não fazer nada com pressa ou afobação sempre dar o tempo necessário para que o bebê aproveite a experiência
-
Busque a resposta do bebê
-
Não fazer nada “para” o bebê, mas sim “com” o bebê
-
Ver a criança como um ser ativo, o sujeito da aventura do seu próprio desenvolvimento
-
Observar e acompanhar cada pequena descoberta, conquista, surpresa ou admiração
-
Perceber a originalidade de cada criança
“Como
é diferente a imagem do mundo que uma criança recebe quando mãos
silenciosas, pacientes, cuidadosas e ainda seguras e resolutas cuidam
dela; e como diferente o mundo parece ser quando estas mãos são
impacientes, rudes, apressadas, inquietas e nervosas.” Emmi
Pikler
O
Sol
A
quarta dimensão é representada pelo sol, o elemento fogo. Trata-se
da identidade essencial da abordagem que aquece e fortifica, dando
sentido e significado a todas as outras dimensões.
A
Abordagem Pikler-Lóczy tem como um dos seus valores fundamentais o
profundo respeito pela individualidade humana e o reconhecimento de
que “toda criança é boa e competente”.
Sua
missão é promover o desenvolvimento motor, cognitivo, emocional,
social e ético; o pleno desenvolvimento infantil.
A
relação dinâmica entre os elementos da Abordagem Pikler-Lóczy
A
terra, os espaços físicos e os materiais e equipamentos necessários
para o desenvolvimento da abordagem, são a base necessária, o leito
do rio em que a água corre. A água são os processos (banho, troca
de fraldas, alimentação e sono) que fluem, organizados ritmicamente
no tempo. O ar é a atmosfera, a disposição, o envolvimento, a
presença e a atenção com que as atividades são desenvolvidas
formando o ambiente das relações entre todos os presentes na
instituição. E o sol (o fogo) é o que dá sentido e significado ao
trabalho realizado, a visão que se tem da criança e a compreensão
do desenvolvimento humano que é confirmada e retroalimentada pela
própria atuação, através dos resultados positivos do trabalho
realizado.
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Textos
do site: http://thepiklercollection.weebly.com/
PATRÍCIA
GIMAEL
Psicóloga
com licenciatura pela UNESP – Bauru, bacharelado e graduação
pela Universidade São Marcos – SP. Tem formação Junguiana, em
Psicologia ampliada pela Antroposofia e em Formação Biográfica.
Desde 2010 tem participado ativamente de cursos, no Brasil e no
exterior, sobre a Abordagem Pikler, consagrada pedagogia voltada
para crianças de 0 a 3 anos. Atende crianças em consultório
particular e realiza orientação aos pais desde 1996. Desenvolve,
coordena e é docente em projetos de formação continuada para
professores da rede pública e privada de ensino com base na
Pedagogia Waldorf, no estudo do desenvolvimento infantil, na
neurociência e na Abordagem Pikler.