Estar com bebês – Anna Tardos
Tradução: Mariana Discacciati
Revisão da tradução:Raquel
Borges
Fora do ambiente da família, é
especialmente perigoso se a atividade de trocar e vestir o bebê não é realizada
desta maneira alegre. Numa creche ou instituição, o bebê é cuidado não por sua
mãe, pai ou avó que o olham com amoroso orgulho, mas por outra pessoa: uma
profissional, educadora, cuidadora. Uma cuidadora tem de cuidar de vários bebês
– um atrás do outro; e não importa o quanto ela ame crianças, uma vez que foi
por isso que ela escolheu essa carreira, ela não pode olhar para cada bebê com
o amor orgulhoso, entusiasmante e adorador de uma mãe. E eu quero dizer mais:
isso sequer pode ser esperado dela. Não seria realista. E, infelizmente, na
realidade seus movimentos muito facilmente se tornam mecânicos, rápidos, e
rotineiros. A ocasião de estar junto frequentemente acontece sem palavras, de
maneira impessoal. Em uma ‘boa situação’, a criança não protesta, mas aguenta
passiva, e talvez faça esse estar juntos um momento difícil por enrijecer seus
músculos. E, portanto, não é um prazer para nenhuma das partes: nem para o
bebê, nem para o adulto.
Como isto pode ser ajudado? Deve
se esperar da cuidadora que ela ame cada criança que ela tem que cuidar como
uma mãe? Mas isso é impossível. Sim, isso é impossível. Amor não pode ser
prescrito, especialmente afeições maternas. Mas pode ser ajudado. Existem
algumas regras pequenas e muito simples, e, se a cuidadora as seguir, a
atmosfera de estar juntos se tornará completamente diferente, e será cada vez
mais agradável tanto para o bebê quando para o adulto estar juntos durante os
cuidados. Eventualmente, com tempo, o adulto não terá que pensar sobre regras e
segui-las. Se tornará natural que ele se aproxime do bebê como um parceiro, com
interesse pessoal e tato, e sua higiene, limpeza, despir, vestir e trocar
fraldas será em última análise um encontro de dois seres humanos. Um encontro
real, quando a criança não é apenas o objeto de tudo aquilo que acontece com
ela, mas uma participante também. Listadas abaixo estão algumas regras que têm
sido formadas, refinadas e trabalhadas baseadas na experiência de algumas
décadas do Instituto Pikler em Budapeste, com base nos ensinamentos
da pediatra húngara Emmi Pikler. No Instituto, centenas de crianças abandonadas
e órfãs foram criadas para se tornarem jovens adultos com personalidades
saudáveis, comprovado por estudos de acompanhamento, apesar do fato de que
tiveram que lidar com a falta do acolhimento do amor familiar em
sua idade mais vulnerável.
- Nunca pegue uma criança inesperadamente em seus
braços de forma que seja surpreendente para ela. Chame-a, procure por
seu olhar. Se ela está adormecida e ainda assim você precisa pegá-la,
chame-a, gentilmente acaricie sua face, e espere até que ela acorde
espreguiçando. Uma vez que o contato visual tenha sido estabelecido, diga
a ela que você irá pegá-la. Sim, mesmo com um bebê de apenas alguns dias
ou semanas de idade. Então, somente depois, estenda seus braços até ela.
- Os movimentos nunca devem ser excessivamente
precipitados. Permita tempo suficiente ao bebê com seus gestos
para que ele se prepare para o que vai acontecer. Por exemplo, toque-o
suavemente, posicione suas mãos gentilmente sob sua cabeça e corpo, e
então levante-o alguns instantes depois.
- Ajude-o também com palavras para prepará-lo para
o que vai acontecer. Isso também significa que nós nunca ficamos
em silêncio juntos, mas falamos com o bebê; mantemos uma conversa.
Converse com ele sobre o que será feito, que tipo de roupas serão
separadas para serem colocadas nele. Sobre que parte do seu corpo será
tocada. Fale com ele, informe-o, não apenas enquanto a ação já está sendo
feita, mas também antes dela começar: “Eu irei puxar o seu braço por cima
da manga do casaco. Sim, este seu braço. Obrigada”. Acredite se quiser, o
milagre irá acontecer com a idade de apenas alguns meses. Sorrindo, o bebê
irá, embora incerto, levantar seu braço quando a mão do adulto tentar
alcançá-lo. E que prazer é para o adulto, e que prazer para o bebê!
- O bebê precisa ser ouvido quando o adulto está cuidando
dele. Ele precisa ser respondido. Em um relacionamento criado dessa
forma o conteúdo da conversa será cada vez mais rico, e o bebê conseguirá
respostas às suas manifestações. A cuidadora pode dizer, por exemplo, “Eu
vejo que você gosta desse casaco bem quentinho. Sim, estou vendo, você
está com sono agora. Você acabou de bocejar. Eu irei te colocar na sua
cama em breve. Aqui estamos, eu irei te colocar na sua cama. E agora estou
te cobrindo. Bons sonhos!” Um bebê de apenas alguns meses já absorve as
palavras direcionadas a ele. E ele ajuda o adulto cuidador a ficar com ele
com sua atenção – seus pensamentos, seu interesse – ainda que seja a
terceira ou oitava criança cujas fraldas ele esteja trocando naquela
manhã.
Estas são regras simples; não há
nada de surpreendente nelas. E ainda assim vale a pena observarmo-nos para ver
se é realmente assim que estamos agindo, e se nós usamos as oportunidades de
estar juntos com a criança para criar um diálogo mais significativo com gestos,
olhares, e fala, no qual o bebê também pode sentir que ele é um verdadeiro
parceiro e um participante ativo, e que faz a hora de estar juntos mais alegre
para o adulto nos momentos de cuidado repetidos durante o dia.
Segunda e última parte do artigo “Estar com os
bebês” (original no site Pikler/Lóczy Fund USA), escrito
por Anna Tardos, do Instituto Pikler em Budapeste.
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