sexta-feira, 19 de setembro de 2014


MORDIDAS NA ESCOLA: Entendendo o problema


                                                     

As mordidas são ocorrências comuns em turmas de educação infantil, provocam muita preocupação e ansiedade nos pais, no entanto, elas fazem parte do desenvolvimento normal das crianças até os três anos de idade. Geralmente as mordidas começam a partir do 1 ano de vida.

O que sentem os pais da criança que mordeu?
Sentem-se envergonhados e culpados

O que sentem os pais da criança mordida?
Sentem-se constrangidos, culpados e também agredidos. Normalmente questionam os cuidados que a escola está oferecendo e também os pais da criança que mordeu por não corrigir adequadamente a criança.

Papel da escola na mediação do conflito
A coordenação da escola deve buscar junto aos pais e professores as causas da mordida para intervir na prevenção do problema.

MOTIVOS
Descoberta do próprio corpo
Desde o aparecimento da dentição até por volta dos 2 anos ou 3 anos, as crianças mordem brinquedos, sapatos e até os próprios pais, professores e amigos para descobrir sensações e movimentos. Um dos motivos é a descoberta do próprio corpo. O psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962) escreveu que assim a criança constrói seu "eu corporal". “É nessa fase, em que ela testa os limites do próprio corpo, onde o dela acaba e começa o da outra pessoa”.

Fase oral
Segundo o austríaco Sigmund Freud (1856-1939), a fase oral compreende o período em que a criança sente necessidade de levar à boca tudo o que estiver ao seu alcance, pois o prazer vital ou a sua libido está na cavidade oral e nos lábios.

Morder para conhecer
As crianças mordem para conhecer. O que está em volta da criança é objeto de seu interesse e ela quer conhecer, tocar, sentir o cheiro, saber se é mole ou duro, quente ou frio, se rasga, quebra, e é pela boca que ela vai experimentar essas consistências e sensações. Morder passa a ser uma forma de interagir com o mundo, perceber os objetos e também provocar reações. Também utiliza a boca para rejeitar ou aceitar alimentos, se comunicar, sorrir, chorar, balbuciar.  

Prazer pela boca
O primeiro contato da criança com o mundo acontece pela boca, quando busca o seio materno e sente prazer em saciar sua fome. Quando morde um amigo descobre novas sensações de prazer, como em ver o susto, a reação, o choro do colega.

Necessidade de se comunicar
Como a criança ainda não domina a linguagem verbal a mordida é utilizada para expressar descontentamento e irritação ou para disputar a atenção ou objetos com os amigos.
Com o tempo, conforme a criança vai aprendendo a se comunicar melhor através da linguagem, começa a trocar as mordidas pelas palavras, conseguindo aos poucos, organizar e expressar seus sentimentos e insatisfações de outra forma.

Quando entra uma criança nova no grupo
A criança pode ter sentimentos de insegurança, medo de perder a atenção da professora ou ciúmes da criança que está chegando por receber da professora mais atenção e cuidados especiais. Como ainda não consegue expressar os seus sentimentos por meio de palavras, manifesta a sua insegurança e ciúmes mordendo a criança nova.

Brincadeira dos pais dando pequenas mordidas para manifestar carinho
São formas erradas de demonstrar carinho que podem confundir a crianças, que reportam para outras crianças as mesmas brincadeiras, porém podendo machucá-las, já que ainda não possuem domínio da força da mandíbula. Essas atitudes das famílias, apesar de trazerem sentimentos positivos, podem causar agressividade na criança que ainda não controla seus impulsos e não sabe distinguir o certo e o errado.

Separação dos pais
A separação dos pais ou brigas presenciadas pela criança geram desconforto e insegurança. Sem poder falar, os dentes viram um recurso de expressão.

Desejos não atendidos
Nessa fase, a criança ainda está acostumada a ter seus desejos atendidos prontamente, sendo comum demonstrar sua insatisfação, por meio de mordidas, enquanto não aprende a falar direito.

Disputas de brinquedos
Cada criança tem seu modo de reagir diante do que sente e do que acontece ao seu redor. Nas disputas por brinquedos, algumas choram, esperando que um adulto ajude, outras reagem mais intensamente, batendo ou mordendo.

Lidar com a ansiedade
Morder também pode ser uma maneira da criança lidar com sua ansiedade, já que ainda não consegue organizar e compreender direito suas emoções, ela descarrega os ciúmes, a insegurança na mordida.

Situações estressantes, festas
Em festas com grande número de pessoas, a criança pode morder por ansiedade ou insegurança, descarrego de excitação ou agitação.

Chegada de um irmãozinho
Sentimentos de ciúmes e insegurança pela chegada de um irmãozinho podem ser causa de mordidas.

Mudança de casa
A criança sente dificuldade em assimilar novos ambientes, precisa de um tempo para se adaptar e sentir-se segura.

Filho único
O filho único pode ser mais possessivo, egoísta e menos tolerante. Como ainda não domina a linguagem verbal para expressar os seus sentimentos, tende a utilizar a mordida.

Mudança da posição passiva para a ativa
A criança que é mordida pode reagir querendo morder também.

Rotina da escola
Rigor no planejamento sistemático de atividades, falta de tempo livre para o desenvolvimento de atividades motoras e lúdicas ou falha na supervisão das crianças.

COMO TRATAR A CRIANÇA QUE MORDE
O professor deve ajudar tanto a criança que morde como a que foi mordida. É preciso ter calma, conversar com a criança agressora, mostrar que a mordida dói e que o amiguinho ficou triste e machucado. Explicar que ninguém gosta de sentir dor. Ser firme e não brigar com a criança.

Identificar as razões da mordida
Para evitar a instalação da agressividade no grupo, perguntar por que mordeu o coleguinha, se a criança não souber responder, oferecer algumas opções. Identificar o contexto em que ocorrem as mordidas para estimular a substituição da mordida pela argumentação verbal. Não isolar a criança, estimular a convivência saudável e mostrar outras formas de comunicação. Ficar mais atento com as crianças para reduzir as mordidas e situações de agressividade.

Oferecer outras formas de comunicação
Quando a criança morde o amiguinho querendo o mesmo brinquedo, o professor deve entrar com o recurso da palavra dizendo que essa não é a melhor forma de conseguir o brinquedo, apresentando outro brinquedo ou uma atividade para que a criança se interesse e perceba que há outros caminhos para lidar com ansiedades, angústias, excitações. Estimular formas verbais de resolução do conflito. Desenvolver atividades de expressão de linguagens – gestos, danças, músicas, pinturas, brincadeiras livres, etc. Aumentar o tempo para o brincar.

Não taxar a criança de mordedora
A expectativa de que a criança volte a morder, pode realmente levar a mais mordida.

Fazer um trabalho preventivo
As professoras devem também realizar um trabalho preventivo, organizar o ambiente e redobrar a atenção sobre as crianças para evitar novas ocorrências que levem a criança a se machucar, agredir ou ser agredida por um colega. Manter sempre um professor ou adulto próximo das crianças, pois elas se desorganizam muito rápido quando se percebem sozinhas.

O que não fazer com a criança que morde
Dar bronca na frente de todo mundo pode deixá-la mais nervosa e talvez mais agressiva. Não fazer combinados que a criança não possa cumprir. Não deixar de castigo ou pedir para pensar no cantinho da sala. Deixar a criança se sentir premiada com o que conseguiu através do comportamento inadequado. Ela não deve usufruir daquilo que conquistou à base da mordida (isso vale para chutes, beliscões, tapas, arranhões). Incentivar a dar o troco.

COMO TRATAR A CRIANÇA MORDIDA
A criança que é mordida precisa de acolhimento - atenção e ajuda - para melhorar seus reflexos, expressar seu descontentamento e encontrar mecanismos de defesa. Os pais e professores devem encorajá-la a se defender, porém jamais incentivar o revide. Evitar o rancor, pois a criança que morde não é má, muitas ainda não compreendem o conceito de dor.
Por José Helio da Silva
FONTE:
DITTMERS, Danielle. O significado das mordidas.
MELO, Ana Maria; VITÓRIA, Telma. Mordidas: agressividade ou aprendizagem?
REVISTA NOVA ESCOLA.Como lidar com as crianças que mordem.
VENEZIAN, Juliana de Albuquerque; OLIVEIRA, Bruna Ronchi Oliveira; ARAUJO, Maria Augusta da Costa. O manejo da agressividade da criança: o que uma mordida quer dizer?

INSTITUTO AVISA LÁ. Mordidas na Primeira Infância.

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