quinta-feira, 16 de março de 2017



10 coisas que você deve saber sobre objeto de transição
Não se engane pela aparência. Um simples pano ou cobertor pode ter grande importância para o desenvolvimento do seu filho


Pode ser que tenha nome próprio, pode ser que não. Em alguns casos, é um objeto, em outros, parte do corpo. Talvez tenha vida curta, ou dure por anos e anos. O mais famoso é o do personagem Linus, da Turma do Charlie Brown. Mas muito provavelmente você tem um também na sua casa, na cama do seu filho, requisitado quase sempre na hora do sono. Não é muito difícil adivinhar, não é mesmo? Seja lá qual é a forma que ele tenha em sua residência – paninho, brinquedo, naninha, cobertor ou até partes do corpo, como cabelos, orelhas ou cotovelos –, o objeto de transição é bem comum na primeira infância e importante para o desenvolvimento emocional da criança.
O objeto de transição pode ser qualquer coisa a que o bebê se apegue a partir do quarto mês de vida. Esse termo foi usado pela primeira vez em 1953, pelo pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott. Segundo ele, nos primeiros meses de vida, graças à atenção e aos cuidados maternos que recebe, o bebê imagina que ele e sua mãe são um ser único, a mesma pessoa. Mas, com a passagem dos meses, ele vai se dando conta de sua individualidade e percebe essa divisão. Mais que isso: descobre que a mãe nem sempre está presente para saciar suas necessidades e, por isso, acaba buscando em um objeto para essa fase de transição o apoio de que precisa, especialmente na hora de dormir.

De acordo com especialistas ouvidos pela CRESCER, ele costuma ser algo que passe sensação de aconchego e segurança. Pode ser um som, uma parte do corpo, um movimento ou um cheiro – pode até ser que você nunca perceba qual é ou foi o objeto de transição do seu filho, de tão subjetiva que essa escolha é.

Uma pesquisa de 2008, das universidades de Yale (EUA) e Bristol (Inglaterra), estudou crianças de 3 a 6 anos e concluiu que, além da sensação de segurança, o apego ao objeto de transição se deve também a propriedades únicas, perceptíveis apenas para a criança, como se fosse uma “essência invisível” ou uma “aura” que rodeia o item e que o diferencia de outro qualquer. Quer saber mais sobre esse curioso recurso? Confira, a seguir, dez curiosidades sobre o tema, além de depoimentos de pais de crianças que adotaram o objeto de transição.
1. Nem toda criança tem objeto de transição
Ele entra em cena para ajudar o bebê a se sentir seguro e lidar com a descoberta do mundo que o cerca. Mas, assim como algumas crianças sentem necessidade de usar o objeto, outras não precisam – e não há nada de errado nisso.
2. Ele só pode ser escolhido por seu filho
Você até pode oferecer algum objeto como paninho ou travesseiro enquanto ele pega no sono. Mas nada garante que ele o adotará. E não adianta insistir. A escolha é pessoal, feita pelo bebê, e pode surpreender os pais. Até um cheiro ou um som – como a música que você canta para ele dormir – pode se tornar o objeto de transição. Nesses casos, talvez você nem perceba qual é o item escolhido.
3. É saudável
Ele diminui a ansiedade do bebê nos momentos de separação da mãe, além de marcar uma fase importante do desenvolvimento psíquico. Através da interação com o meio e com o objeto de transição, o bebê passa a desenvolver criatividade, imaginação, cognição e afetividade.
4. Deve ser lavado (se for mesmo preciso)
O ideal é não lavar, pois o cheiro do item costuma remeter à mãe, e isso deve ser respeitado. Porém, como algumas crianças o carregam para todo lado, é inevitável que suje. A recomendação, então, é lavar se preciso. Seu filho notará a diferença, mas deixá-lo sujo pode trazer riscos à saúde, já que entra em contato com o nariz, olhos e boca. Uma conversa em que se estabeleçam acordos é a melhor solução – você pode sugerir que ele procure um objeto substituto.
5. Um, dois, três... objetos de transição
Pode acontecer de a criança aceitar um segundo objeto enquanto o principal está fora de alcance. Também pode ser que ela escolha duas coisas ao mesmo tempo, como o cabelo da mãe e uma música, ou dedo na boca e um paninho. Mas, novamente, é a criança quem decide. Não adianta forçar para que ela tenha mais de um objeto.
6.Esqueceu em casa? Perdeu?
Se você já viajou e percebeu só quando chegou ao destino que o item de apego do seu filho ficou em casa, sabe bem o trabalho que isso pode dar. Algumas crianças sentem dificuldade para dormir, podem ficar manhosas e cair no choro. Cabe aos pais explicar a situação com clareza, independente da idade. Antes de oferecer um novo objeto, deixe seu filho tentar se adaptar com o que há disponível no local – geralmente funciona. Essa também pode ser uma chance de abandonar o hábito. “As crianças têm grande capacidade de se adaptar e encontram uma forma de lidar com a situação, seja encontrando um objeto substituto ou pegando no sono sozinhas”, explica Rita Lous, psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR).
7. Quando levar pra escola?
Seu filho até pode levar o objeto para a classe, mas só enquanto for bebê ou estiver no período de adaptação, vivendo os primeiros momentos na escola – e fizer muita questão disso. Nessa fase, ele pode precisar de um apoio. Mas, à medida que se adapta à turma e ao ambiente, a escola costuma pedir ao aluno que o guarde na mochila até o final das aulas. Depois de um tempo, alguns colégios incentivam que ele seja deixado em casa. É comum também a criança perceber que os colegas não usam e, assim, resolver parar de levar.
8. E quando é uma parte do corpo

Não há problema nenhum se for cabelo, orelha, cotovelo ou qualquer parte do corpo da própria criança ou de terceiros. Porém, quando a necessidade do “objeto” for excessiva, é preciso cuidado. Ele serve para acalmar, e não pode ser usado o tempo todo nem restringir a vida dos pais – no caso de o item ser a parte do corpo de um deles. Se isso acontecer, vale consultar um psicólogo, pois pode se tratar de alguma angústia, de uma dificuldade de o bebê se separar da mãe (e vice-versa).
9. Passou da hora
Não há idade ideal para largar o objeto de transição. Em geral, o objeto é gradualmente substituído por outros interesses e, dos 3 aos 5 anos, a criança já tem condições de deixá-lo – cada uma no seu tempo, que é emocional e não cronológico. O importante, segundo especialistas, é os pais não prejulgarem o filho. Mas, como tudo na vida, o hábito requer atenção quando é exagerado. Se após os 5 anos ou o período de adaptação na escola, a criança se recusa a ficar longe do paninho, ou ainda se o uso do objeto prejudica o convívio social dela (sofrer bullying, por exemplo), vale procurar orientação médica ou psicológica para tentar identificar o motivo do apego. Situações difíceis para ela, como a morte de alguém ou o nascimento de um irmão, podem estar por trás disso.
10. Esconder, nunca!
Os pais nunca devem dar, jogar fora ou esconder o objeto sem que a criança saiba e concorde com isso. “É uma forma de agressão. Ao tomar essa atitude, ocorre uma quebra de confiança e a criança sofre”, diz Rita.
Histórias de apego
Ter objeto de transição é mais comum do que se pensa. Veja o que dizem alguns pais:  
“Minha filha sempre dormia com um cachorro de pelúcia. Quando esquecia na casa da avó, era um choro só. Até que, sozinha, aos poucos, foi parando com o apego.”
Juliana Fonseca, mogi guaçu (sp), mãe de Camila, 4 anos
“Desde bebê, minha filha pega na minha orelha para dormir. Na primeira vez, achei que fosse só carinho. Hoje, ela faz isso em qualquer lugar, e com a orelha de quem a estiver segurando.” Paula Rosana Araújo, de Itabuna (BA), mãe de Maria Clara, 2 anos
“Com 4 meses, minha filha adotou um cobertor, naninho. Um dia, assistindo à TV, ela viu o Linus, da turma do Snoopy, que também usa um cobertor, e falou: ‘Olha, pai, é igual ao meu’.” Werik Bispo, de São Paulo (SP), mãe de Alexia, 3 anos
“O objeto da minha filha era uma boneca de pano. Até tínhamos duas iguais, para garantir caso perdesse. Mas, de repente, ela deixou de se interessar. Foi natural.” Leila torres, joinville (sc), mãe de beatriz, 2 anos
Fontes: Gláucia Faria da Silva, psicanalista e psicóloga do Hospital Infantil Sabará (SP); Melina Blanco Amarins, psicóloga e psicopedagoga do Hospital Israelita Albert Eins

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